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Por José Valcir* 12/05/2006 Antes mesmo do projeto de lei sobre a cota para os Quadrinhos ser aprovado, uma onda de críticas contra ele já começou a surgir. E quem ganha com isso? As "republicadoras" como a Panini, Conrad e todas as outras editoras que publicam quadrinhos estrangeiros. Esse artigo não é para fazer levante contra elas. Deve-se republicar material estrangeiro, sim, assim como é preciso ser protecionista com o que seja nosso, pois quantos dos nossos artistas não aprenderam a dominar o desenho, a arte de fazer Quadrinhos, com alguém que ele admirasse? Mozart Couto, Mestre dos Quadrinhos pelo Angelo Agostini, começou imitando John Buscema, hoje, dá aula sobre o assunto. E o que dizer de Flávio Colin, considerado por alguns amantes dos quadrinhos como o Jack Kirby brasileiro? Não será uma tarefa fácil. Lógico que a partir do momento em que as editoras nacionais começarem a cumprir o seu papel, elas irão errar, vão esbarrar com um público que há mais de cinqüenta anos lê Batman, Capitão América, Luluzinha, Tio Patinhas, e toda uma galeria industrializada apoiada numa forte campanha de marketing que os torna possíveis de serem encontrados em bolsas, chaveiros, lancheiras, bonés, cadernos e, numa recente empreitada, videogames. É preciso também alertar que não é uma campanha contra os EUA. Também os nipônicos conquistaram em todo o mundo uma legião de fãs que não perde a oportunidade de trajar o uniforme do seu personagem preferido. Aproveitando-se dessa situação, os coreanos também ganharam espaço nas prateleiras com Chonchu, Ragnarok e outros títulos. O curioso é que a Coréia era colônia japonesa quando se tratava de HQs e, depois de criar uma lei para limitar a publicação do mangá e incentivar a produção local, hoje exporta para cá. Logo, o que entender do leitor brasileiro que reclama sem analisar? Estes leitores não vêem como os quadrinhos nesses países progrediram após a criação de leis protecionistas. Na Espanha foi aprovada, por unanimidade, uma lei que premiará artistas locais, numa forma de fomento já que o país sofre do mesmo tipo de política editorial que o Brasil. Em dezembro de 2005, foi realizado um encontro em Buenos Aires, na Argentina, para discutir os problemas editoriais que sofrem os quadrinhos desse lado de cá do hemisfério. Em cada parte do globo há manifestações em prol dos quadrinhos. O que está prestes a acontecer no Brasil, se aprovado o projeto de lei, será um acontecimento para mudar esse estado de "copiadoras" e "republicadoras", uma ação natural manifestada por todos os autores anônimos que lotam bienais, festivais, congressos e exposições de quadrinhos em várias partes do país e editam fanzines. Falando em exposição, o Brasil foi o primeiro a fazer uma e o luso-brasileiro Jayme Cortez, junto com Álvaro de Moya, Syllas Roberg, Reinaldo de Oliveira e Miguel Penteado, encabeçou essa empreitada. Assim como tivemos As Aventuras de Nhô Quim (de 1869) - que teve continuidade em As Aventuras de Zé Caipora -, feita pelo ítalo-brasileiro Angelo Agostini, onde surgiu um dos primeiros personagens de Quadrinhos do mundo, que antecedeu até o próprio Yellow Kid (de 1895). Mas ninguém quer discutir isso. Talvez as "republicadoras" boicotem esse projeto. Quem sabe essa inexperiência, devido a décadas de colonização, nos faça cometer erros, em conseqüência da falta de campanhas de marketing e de pesquisa de campo, que o leitor não nos perdoe. Quem sabe tudo isso não nos leve a nada (ou a tudo)? Antes de ser do contra, dê uma chance para que isso aconteça. Imagine o Linux se não fosse pelas pessoas que acreditaram nesse software? E se Santos Dumont não tivesse inventado o avião e o relógio de pulso? Ou se tantas outras idéias tivessem sido caladas diante de uma onda de críticas avassaladoras? Talvez estivéssemos ainda numa caverna escura e fria porque não dominaríamos sequer o fogo. Portanto, caro leitor, quadrinhista, editor, parlamentar e outros do contra: dêem uma chance para que a HQB seja forte em cada parte do país e não uma luta isolada como sempre aconteceu. *o autor é quadrinhista e co-editor da publicação independente Prismarte.
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