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Resenha: O Estado das Almas
Por Wilson André Filho
08/05/2006

O romance policial acaba de ganhar mais um reforço com o recente lançamento de O Estado das Almas, de Giorgio Todde (Editora Objetiva, 165 págs., R$ 33,90), um drama psicológico com toques de humor, passando por venenos exóticos, lâminas afiadas e assassinatos brutais, chegando a beirar o horror. A novidade é que a história não acontece naqueles cenários já conhecidos dos livros policiais, com névoas sombrias e becos escuros, muito menos numa metrópole norte-americana dominada por gângsteres, mas se passa em Abinei, uma pequena aldeia incrustada nas montanhas da Sardenha, Itália, mais precisamente no ano de 1893.

O detetive do livro é Efisio Marini, um famoso embalsamador e figura curiosa. Para criá-lo, o autor se inspirou em um médico que realmente viveu naquela época e que teria sido o inventor de um revolucionário método de petrificação de cadáveres: sem cortes ou injeções transformava defuntos em múmias, podendo, no entanto, reverter o processo devolvendo a flexibilidade e a cor ao corpo já sem vida. Como se não bastasse, Marini não tem o porte de um Sherlock Holmes nem a obsessão de um Hercule Poirot, mas nem por isso é menos brilhante ou menos sagaz e está apto para resolver o mistério.

Na trama, ele é convocado por seu velho amigo Pierluigi Dehonis, médico da pequena aldeia, com a incumbência de oferecer um esclarecimento sobre o envenenamento de uma velha senhora. Nem bem ele começa a tecer suas considerações, a mais bela jovem do lugar também aparece morta. Tudo se complica quando um influente político local também tem sua vida tomada de forma drástica. Essas mortes, que obviamente estão ligadas entre si, abalam o assim chamado "Estado das Almas" — o número de habitantes da comunidade — sempre imutável, "quando uma alma se vai outra deve ocupar o seu lugar", é o que afirma Dom Càvili, pároco do vilarejo. Contando então com a ajuda do amigo médico, do padre e de um capitão dos carabineiros - a força policial italiana -, o renomado embalsamador deverá juntar as peças do quebra-cabeças a tempo de evitar uma outra morte, que pode muito bem ser a sua.

Outro fato interessante é que o autor se utiliza, de forma comedida mas constante, do linguajar próprio da época em que a história se passa, fazendo com que o leitor transporte-se para o século XIX, contando ainda com várias expressões e citações tanto em italiano quanto em latim, todas devidamente traduzidas ou comentadas ao rodapé das páginas. Como toda boa história de crimes que se preza, o final trará ao leitor  uma surpresa, para alguns poderá parecer óbvio, para outros, bem apropriado. O autor, Giorgio Todde, tem sido apontado, pela imprensa especializada européia, "como uma boa surpresa da literatura italiana contemporânea". O Estado das Almas foi vencedor dos prêmios Giuseppe Berto e Rhegium Julii e já foi traduzido para seis países. No Brasil esse é o seu primeiro trabalho de Todde a ser publicado.

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