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Por Ruy Jobim Neto 12/04/2006
Os antepassados de Nair de Teffé formam uma narrativa curiosa. Foi o avô paterno dela, um alemão, que se tornou amigo de D. Pedro I, quando ambos se encontraram a cavalo numa praia carioca, e que ganhou a partir daí a amizade imperial e o primeiro título nobiliárquico da família. Quando o Imperador retornou a Portugal para se tornar D. Pedro IV, o avô caiu em desgraça na nova estrutura social da Corte. O pai dela, por sua vez, foi inclusive patrono de um aeronauta contemporâneo a Santos-Dumont, e cuja fama nunca alçou os livros escolares. A infância de Nair foi na cidade de Petrópolis. Lá, ela teve seus primeiros contatos com a música e o teatro. Ela tinha uma excelente voz e atuava muito bem. Houve peças de teatro escritas sob medida para o talento da moça. Nair tocava violino e piano com a mesma excelência. E, além disso, praticou pintura durante um bom tempo, o que determinou boa parte de sua carreira e fama. Tendo nascido no Rio de Janeiro, em 1886, Nair era filha do famoso Barão de Teffé (que virou nome do navio oceanográfico da USP) e pôde estudar em Nice e em Paris, na França. O espírito livre e inquieto a direcionou logo cedo para o desenho. Em 1905, ela freqüentou a então conceituadíssima Académie Julian, uma escola de Belas Artes fundada por Rudolf Julian basicamente para homens. Quando as meninas começaram a ter aulas na escola, suas mensalidades eram infinitamente mais caras que as dos rapazes, e mesmo os prêmios concedidos a elas nos concursos anuais de artes plásticas valiam menos que os deles. Preconceito a céu aberto, mas enfrentado com brio. Em seus anos de Europa, Nair pôde desenhar as mulheres, os homens, a sofisticação parisiense, quase ao mesmo tempo em que outro grande pintor fazia o mesmo com as noites boêmias de Montmartre: Toulouse Lautrec. Nossa caricaturista esteve em Paris ao mesmo tempo em que Santos-Dumont fazia seus primeiros experimentos balonísticos. O aeronauta fez voar o 14 Bis enquanto Nair também se encontrava na capital francesa. Retornando ao Brasil, Nair de Teffé trabalhou em vários órgãos da Imprensa brasileira da época. Publicou centenas de desenhos, número que não ficava a dever para nenhum outro artista contemporâneo, haja vista a produção intensa de desenhistas como Angelo Agostini, J. Carlos e Belmonte. Nair pode ter perfeitamente conhecido Agostini, pois ele havia falecido em 1910, depois, portanto, que ela tivesse começado a desenhar para O Malho. Por sua vez, Nair foi contemporânea de O Tico-Tico, o primeiro jornal semanal com quadrinhos da nossa História. Foi o momento da caricaturista (e moça de família nobre) esboçar a Capital Federal onde havia nascido. Em 1909, portanto, Nair publica pela primeira vez na revista Fon-Fon, de humor. Era a grande cronista-mulher das figuras femininas da alta sociedade carioca. Plena de verve, ela se afeiçoou à vida boêmia carioca, tendo conhecido figuras como a maestrina Chiquinha Gonzaga, entre tantos outros. Em 1910, ela expõe na Galeria das Elegâncias uma série de caricaturas. Foi um momento intenso de produção. Nair colaborou com publicações parisienses como Fantasio, Le Rire e Fémina, além de ter ilustrado livros para a Inglaterra (como The Beautiful Rio de Janeiro, de Alfred Grey Bell, impresso em Londres no ano de 1914).
Espírito livre e irreverente, Nair de Teffé conseguiu outro feito absolutamente delicioso quando, numa reunião ministerial presidida pelo marido, ela irrompeu na sala trajando um vestido cuja roda da saia ostentava caricaturas de todos os Srs. Ministros de Estado! Poucos anos depois, ela ficaria viúva do marechal e nunca mais se casou. Tendo, enfim, vivido uma existência longuíssima, no final de 1959, Nair de Teffé retornou à caricatura. Desenhou praticamente todos os presidentes, de Hermes da Fonseca aos primeiros governos militares, durante a Ditadura. Era uma mulher belíssima na juventude, cortejada por homens, inteligente, alegre e brincalhona. Uma “espoleta”. Daquelas mulheres literalmente adiante de seu tempo. |
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