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A nova e a velha cara da HQB - parte I
Por Roberto Guedes
14/02/2006


Nhô Quim, de Angelo Agostini

Muita gente procura achar (ou dar) uma "verdadeira identidade" às Histórias em Quadrinhos brasileiras. Um trabalho inglório, já que nosso extenso país não é formado por uma cultura homogênea, mas sim, por várias vertentes culturais. Esse processo de tentar impor à força um certo regionalismo acaba, muitas vezes, redundando num enorme fracasso. O importante mesmo é aceitar que as Histórias em Quadrinhos brasileiras devem, antes de qualquer outra coisa, ter a "cara" de seu autor, não importando sua origem. E, se a situação econômica do país inviabiliza um sistema funcional de nível industrial, como é o caso dos quadrinhos de Mauricio de Sousa, ou como eram os da Disney - produzidos nos estúdios da Editora Abril até tempos atrás -, apostemos, portanto, na produção livre e autoral. Segue adiante, um pequeníssimo histórico da HQB que formulei a fim de reavivarmos a memória e de procurarmos tirar boas lições...

No começo

No dia 30 de janeiro de 1869, o abolicionista ítalo-brasileiro Angelo Agostini publicou As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte, subdividida em nove capítulos, na revista Vida Fluminense. Em 11 de outubro de 1905, o jornalista Luiz Bartolomeu de Souza e Silva lançou pela editora O Malho, a revista O Tico-Tico - considerada por estudiosos a mais importante publicação infantil brasileira, exatamente por seu pioneirismo, pois trazia em bojo, passatempos e quadrinhos. Em 1934, estreou o Suplemento Juvenil - do Grande Consórcio Suplementos Nacionais - uma publicação só com Histórias em Quadrinhos. O Suplemento foi idealizado pelo jornalista Adolfo Aizen que, após uma viagem aos Estados Unidos, onde ficou encantado com o sucesso das tiras em quadrinhos (comic strips), decidiu repeti-lo aqui em Terra Brasilis. Além de trazer as histórias de heróis norte-americanos publicados em jornais, como Flash Gordon e Jim das Selvas, abriu espaço para personagens nacionais, caso de Roberto Sorocaba, de autoria de Monteiro Filho.

Em 1935, surgiria a paulista A Gazetinha, publicada por Cásper Líbero, o mesmo editor do jornal A Gazeta. Um ano depois seria a vez da carioca Gibi (que, de tão famosa, virou sinônimo de revista em quadrinhos no Brasil). Em 1937, A Gazetinha lançou uma série em quadrinhos inteiramente brasileira: O Garra Cinzenta, de autoria de Renato Silva e Francisco Armond.  Em junho do mesmo ano, começou a circular O Globo Juvenil, de Roberto Marinho. Em 18 de maio de 1945, Aizen fundou a Editora Brasil-América (a hoje legendária EBAL), e em parceria com a Editora Abril da Argentina, de propriedade do irmão de Victor Civita, lançou a revista Seleções Coloridas, com material da Disney. Aqui no Brasil, a EBAL lançaria sua primeira revista, O Herói, em julho de 1947. Civita, por sua vez, fundou a Editora Abril brasileira em 1950, com o personagem italiano Raio Vermelho. As vendas foram um fiasco, e a revista foi "apagada" da história da editora. Então, o segundo gibi, Pato Donald - sucesso editorial imediato - levou a fama de "primeira publicação" da Abril. Em 1952, seria a vez de Roberto Marinho fundar sua editora, a Rio Gráfica, que assim como a EBAL, também ficou conhecida por uma sigla, RGE - até que, nos anos 1980, mudaria para Editora Globo.

Nos anos 1950, surgiu o Capitão Brasil, do ítalo-brasileiro Nico Rosso e também o Simão Brasil, um detetive criado por Diamantino da Silva e publicado nos encartes de quadrinhos do jornal Última Hora. Em paralelo, no ano de 1951, cinco jovens desenhistas, Álvaro de Moya, o luso-brasileiro Jayme Cortez, Sylas Roberg, Reinaldo de Oliveira e Miguel Penteado, organizaram a (Primeira) Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos (do mundo).

Os episódios ao vivo do Capitão 7, transmitidos pela TV Record (com patrocínio do Leite Vigor), acabaram gerando um gibi comandado por Jayme Cortez. A edição n° 1 saiu em novembro de 1959 e contou com a arte de (um jovem) Júlio Shimamoto. Ainda neste ano, Mauricio de Sousa começou a produzir a série do cachorrinho Bidu.

Em outubro de 1960, a editora O Cruzeiro, do jornalista Assis Chateaubriand, lançou o gibi mensal do Pererê, do cartunista Ziraldo. A revista foi cancelada em abril de 1964, devido a questões políticas. Por falar nisso, com o golpe militar ocorrido naquele mês e ano, a CETPA (Cooperativa de Trabalhadores de Porto Alegre) - criada pelo governador Leonel Brizola - foi desmantelada, pondo fim ao sonho de muitos profissionais em verem um mercado editorial dominado pela produção brasileira.

Os super-heróis

O mascarado Raio Negro foi lançado pela GEP (Gráfica Editora Penteado) de Miguel Penteado, em fevereiro de 1965. Em 1966, surgiu Fantar, o Monstro Atômico, criação de Milton Mattos e Edmundo Rodrigues. Mas, um dos mais diferentes heróis nacionais do período foi, sem dúvida, o Golden Guitar - incapaz de licenciar a série Archie no Brasil, a Editora Graúna encomendou a Macedo A. Torres a criação de um herói juvenil, inspirado no movimento musical da Jovem Guarda, liderado pelo cantor e compositor Roberto Carlos. Assim, do dia para noite, surgiu Renato Fortuna, o Golden Guitar.

Aproveitando a onda dos "Heróis Shell" (apelido dado aos heróis da Marvel Comics, devido ao patrocínio dos postos de gasolina nas revistas da EBAL e nos intervalos dos desenhos animados transmitidos pela TV Bandeirantes), surgiriam dezenas de super-heróis brasileiros. Os de maior destaque foram: Mylar e Superargo, produzidos por Eugênio Colonnese. Mylar, o Homem Mistério, vinha com roteiros de Luis Merí e as histórias saíam pela Editora Taíka. No princípio dos anos 1970, a EBAL lançou O Judoka, com roteiros de Pedro Anísio e arte de vários desenhistas, entre eles: Eduardo Baron (que era o diretor de arte da EBAL), Mário José de Lima e Floriano Hermeto, o que mais se destacou. "FHAH" como Floriano costumava assinar, era adepto do estilo europeu, promovendo um visual diferenciado para a revista.

Na segunda parte deste artigo: Edrel, Grafipar, Vecchi, Press Editorial...

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