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Resenha: Um mundo em Quadrinhos
Por Marko Ajdarić
13/12/2005

Os brasileiros que acompanham a cena local da Nona Arte já conhecem o nome de Wellington Srbek como realizador de quadrinhos que estende os limites do discurso da Nona Arte sobre o Brasil, especialmente por Fantasmagoriana. Agora, através de mais uma das iniciativas que tornam a Marca de Fantasia a melhor editora de livros sobre quadrinhos no Brasil, temos a chegada de Um Mundo em Quadrinhos, que é uma adaptação do primeiro capítulo da dissertação de mestrado que o autor apresentou sob o título de Quadrinho-Arte: uma Leitura da Revista Pererê de Ziraldo à Faculdade de Educação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Fazendo um paralelo com alguns dos argumentos centrais do livro, Wellington Srbek mostra que a escolha das referências é fundamental para que se tenha um foco correto sobre os quadrinhos: a grande vantagem do quadrinhista e pesquisador é exatamente esta.

Para quem conhece a atmosfera acadêmica brasileira, em que muitas vezes a barafusta e a confusão conceituais são a regra, as escolhas das fontes de Srbek - e principalmente as dosagens com que as usa - são extremamente animadoras: podendo escolher entre centenas de fontes e multiplicar referências muitas vezes movediças, Srbek se vale de referências como Roland Barthes, Bakhtin, E.H. Gombrich, os integrantes da escola de Frankfurt (goste-se ou não deles) com uma "apropriação" mais que satisfatória e sóbria. A partir de suas fontes bem escolhidas e bem trabalhadas, Srbek desenvolve sínteses originais e fecundas, que envolvem desde questões técnicas até temas como a alienação, a relação entre criador e leitor, o mercado nacional de quadrinhos e muitos outros.

Para uma obra desse porte, não trazer nenhum "ruído" em sua parte dissertativa mostra que Srbek tem muito claro em sua mente de muitas idéias os objetivos a que se propôs: demonstrar a falibilidade de três noções correntes, "de que as HQs surgiram nos Estados Unidos em 1896, de que são simplesmente um tipo de literatura, e de que não passam de mero entretenimento".

Vale ressaltar que o livro só traz leves escorregadelas na apresentação (que merece ser acompanhada de um prefácio nas próximas edições), que supomos sejam por sua adaptação ao modo acadêmico de apresentar trabalhos. Uma vez ultrapassada esta fase, o livro traz não só uma defesa muito bem argumentada dos pontos principais que Srbek defende e que não só convencem da integridade do autor por trás das letras: Um Mundo em Quadrinhos, em 64 páginas e algumas ilustrações, com capa ilustrada com artes de Moebius, Flavio Colin, Osamu Tezuka e Jack Kirby, se não é o mundo em quadrinhos, é um belo guia para que se entenda seus caminhos. E para mais, nos traz algumas "perturbadoras" questões sobre que novas construções Srbek é capaz de realizar ao pensar de forma tão ampla e fundamentada o seu próprio fazer enquanto quadrinhista para lá de cerebral.

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