O ano era 1905, o jornalista e caricaturista Renato de Castro, o poeta Cardoso Júnior e o professor e também caricaturista Manoel Bonfim apresentaram a Luís Bartolomeu de Souza e Silva, dono da Sociedade O Malho, o projeto do que seria a primeira revista no Brasil a ser voltada para o público infantil.

Com o valor humilde de duzentos mil réis, considerado baixo para a época, acabou sendo considerado um sucesso rapidamente. Hoje, cem anos depois, para homenagear aquela que é considerada um marco para as Histórias em Quadrinhos no Brasil, a Editora Via Lettera lança nas livrarias e bancas especializadas O Tico-Tico: Cem Anos de Revista, de Ezequiel Azevedo.

Publicada durante outubro de 1905 e fevereiro de 1962, copiando o modelo da revista francesa La Semaine de Suzette, o semanário trazia diversos personagens que acabaram se tornando ícones de uma época, tais como: Chiquinho, baseado no personagem Buster Brown, de Richard F. Outcault, criador também de Yellow Kid; Zé Macaco e Faustina, um casal que chamava a atenção pela feiúra e pela idiotice e se esforçava para aparentar boa educação, inteligência e estar na moda; e Réco-Réco, Bolão e Azeitona, criação de maior destaque do quadrinista Luiz Sá.

Entre os caricaturistas e quadrinistas brasileiros - além do já citado Luís Sá - que publicaram na revista estão J. Carlos, Max Yantok, Léo, Théo, Lino Borges, Daniel Cícero, Percy Deane, Messias de Melo e André Le Blanc.

Apesar de trabalhar com tantas criações nacionais, O Tico-Tico também teve a presença marcante de diversos quadrinhos norte-americanos, entre eles Little Nemo in Slumberland, de Winsor McCay. Também ganharam espaço na revista Mickey Mouse, de Walt Disney, que foi publicado com o título de As Aventuras do Ratinho Curioso; Gato Félix, de Pat Sullivan; Krazy Kat, ou Gato Maluco, de George Herriman e Popeye, de Elzie Crisler Segar, publicado com o título de Brocoió.

Mas não era só de Histórias em Quadrinhos que O Tico-Tico sobrevivia, o semanário também trazia páginas dedicadas a contos infantis, traduzidos de capítulos de livros de outros países. Porém o maior enfoque era dar demasiada atenção ao didatismo e a informação, tanto que as pessoas o utilizaram como material para-didático e como ensinamentos para o crescimento moral, cívico e intelectual. Para a diversão do leitor eram publicados jogos, informações diversas, poesias, atrações educativas, referências a datas históricas, além de textos sobre as séries mais populares do cinema, partituras, letras de músicas e peças teatrais.

No final, foi a própria ingenuidade da publicação que acabou marcando seu fim, porque nos anos de 1930 e 1950 outras publicações, como Suplemento Infantil, O Globo Juvenil e Gibi, trouxeram para o Brasil as histórias de super-heróis, que tomaram todo o espaço das bancas, devido às cenas envolventes de ação. Com isso O Tico-Tico foi deixando de ser lançado aos poucos, primeiro virou mensal, depois bimestral, seguido de almanaques e especiais para pais e professores até desaparecer por inteiro em 1962, após 57 anos e 2097 edições.

Com o lançamento, a Editora Via Lettera espera fazer uma justa homenagem ao centenário da revista e depois desse provavelmente outras editoras virão a lançar publicações para celebrar este aniversário. O autor do livro, Ezequiel Azevedo, é professor formado em física pela Universidade de São Paulo e colecionador de quadrinhos.

Maiores informações sobre O Tico-Tico: Cem Anos de Revista no site da Editora Via Lettera.

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Lançamento: O Tico-Tico - Cem anos de revista no Bar Balcão (SP)