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Resenha: Xaxado Ano 2
Por Marko Ajdarić
24/10/2005

Xaxado Ano 2, um novo livro de 104 páginas que traz mais 365 tiras em preto e branco com as histórias de Xaxado, o menino sertanejo de Antonio Cedraz, foi lançado na Bienal de Livros da Bahia, em setembro. As tiras deste segundo volume foram publicadas nos anos de 1998 e 1999. As histórias continuam sendo criadas por Cedraz, com desenhos de Sidney Falcão, que mantem uma incrível fidelidade ao traço original do mestre baiano dos quadrinhos (nem tão) infantis.
 
A apresentação do livro traz um duplo detalhe revelador da relação das HQs com a imprensa baiana: em primeiro lugar, é um jornalista quem prefacia a obra, meu colega João Carlos Sampaio, que desde os bancos da faculdade já ajudava os diversos segmentos da cultura baiana a se ver melhor. O texto de João é muito feliz em apresentar a leitores mais exigentes as exatas dimensões das tiras de Xaxado, Zé Pequeno, Marieta, Arturzinho e muitas companhias, e ressalta seu profundo humanismo. Na apresentação da obra, o próprio Cedraz nos conta que foi através da editoria de municípios do jornal A Tarde (que era uma das glórias não re-conhecidas do jornalismo geral até pouco tempo atrás, sendo o mais fiel espelho que um jornal brasileiro trazia da totalidade dos fatos de seu estado, de longe. A Bahia é do tamanho da França, ressalte-se) que as tiras começaram a chegar todos os dias a dezenas de milhares de pessoas.

Bem, uma palavra da apresentação do Cedraz é chave para entender por que Xaxado não é somente mais uma tira: "matutar". Cedraz tirou desse exercício, tão salutar ao homem e tão em descrédito neste mundo dito pós-moderno, a origem e os contornos deste pequeno grande mundo. Não somos convidados apenas a nos deleitar com algumas boas risadas. O menino do interior resolveu ser generoso com a terra que o viu nascer, e desfia, tira após tira, um retrato muito comprometido da realidade de sua gente: dos párocos, do coronelato, da seca, das crenças e claro, das brincadeiras de menino que os garotos que vivem entre o video-game e o playground nem imaginam como sejam boas. Como bom matuto, Cedraz decanta suas histórias.
 
Para nossa sorte, a generosidade vem associada a uma mão segura e a um exercício de mais de 30 anos. Assim, temos uma variação bem-amarrada sobre os temas, e um domínio da técnica da tira, que exige o anticlímax rápido e certeiro que o mestre realiza tão bem, nestas seqüências de 3 quadrinhos (quase todas) e umas poucas charges-cartuns de um quadro só. Assim, algumas seqüências como a da morte da galinha (páginas 28 e 29) funcionam maravilhosamente em conjunto, mas que separadamente, também tem um efeito mais que satisfatório. Em outras tiras, Cedraz consegue faz das tiras poesia e não prosa, para falar da situação de sua gente, como na última tira da página 22.
 
A reunião em livro das tiras é um presente para quem possa pagar os R$ 15,00 que a obra vale por mesclar como poucas, fantasia, história e reflexão.
 
Xaxado Ano 2 pode ser adquirido diretamente através da página eletrônica da Turma do Xaxado, onde há jogos, brincadeiras, tiras, a história de Cedraz e muito mais.

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