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Fantar: HQ de e para fãs de filmes de monstros
Por José Salles
20/10/2005

O fascínio que o cinema causa nas pessoas, e mais particularmente a influência que os filmes de ficção e fantasia exercem sobre os cinéfilos, é assunto para deliciosos debates. Dentro deste estilo cinematográfico, sobressaem na preferência dos espectadores os filmes de monstros - estilo que vem preenchendo as telas e encantando os olhos das platéias ao longo das décadas e que continua até os dias de hoje, haja vista que produções sobre monstros de todo tipo destruindo cidades e aterrorizando a humanidade continuam a pleno vapor. Os quadrinhistas, quase sempre cinéfilos inveterados pelo menos durante um período de suas vidas, certamente não escapariam desta influência. Mesmo aqui no Brasil há um notável exemplo de História em Quadrinho de monstrão detonando tudo, produzida no finalzinho da década de 60 do século passado: Fantar, que teve quatro números lançados pela editora GEP, sempre com histórias de Milton Mattos e arte do endiabrado Edmundo Rodrigues.

E o número 1 já começa com a corda toda: no primeiro quadro que ocupa mais da metade da página, uma pintura que relembra os formidáveis cartazes daqueles memoráveis filmes de monstro dos anos 1950/60, e uma rápida explicação da origem de Fantar: uma experiência genético-atômica (uau!) projetada por uma organização maléfica denominada Organização dos Sete Sábios (OSS), com o nefasto intuito de destruir as cidades e dominar o mundo, ou o que restar dele. Para isso criaram um monstro enorme, irracional e indestrutível, e é exatamente assim que o personagem principal se comporta, como um genuíno Godzila tupiniquim. Quem revela ao serviço secreto encarregado de destruir Fantar que aquela criatura apavorante fôra antes um ser humano, e que seu atual estado físico gigantesco e disforme é resultado de experiências genéticas, é um renegado da OSS conhecido como Dr. Branny. Será ele quem dará as dicas a Mr. Leader, chefe do serviço secreto - reparem que os nomes dos personagens são estrangeiros, mas não por falta de patriotismo ou coisa parecida, pelo contrário, me pareceu uma forma respeitosa do roteirista tratar a inteligência do leitor, afinal de contas, alguém acha que o Brasil teria condições de impedir um ataque deste porte?

Fantar foi dotado com inteligência pífia, máquina de destruição cheia de ódio inexplicável, por isso ele parece assim meio burrão, meio Hulk dos velhos tempos. E olhem a potência do bicho: a cada ataque atômico que recebe, não só não fica ferido como cresce em tamanho e força! E só pôde ser impedido graças a uma certa gosma inventada pelo Dr. Branny. A história termina em suspense: terá perecido o Fantar? Só se as vendagens fossem muito baixas.

Ainda bem que, mesmo remando contra a força esmagadora das multinacionais, e desprezado por boa parte dos leitores brasileiros, que não gostam de quadrinhistas conterrâneos, um segundo número de Fantar chegou às bancas, desta vez com duas histórias: em A Ameaça de Tunamar, nosso monstro reaparece próximo de um reino submarino desconhecido pela civilização terrestre, chamado Tunamar - país aquático governado e habitado por um povo bélico, pronto para invadir a superfície e tomar o planeta, mas Fantar chega a tempo de impedir o nefasto intento dos tunamarianos. Dentre vários perigos, o maior desafio de Fantar foi a batalha contra um polvo igualmente gigantesco. A segunda história é muito mais curta e não aparece Fantar, está focada em Branny e uma tentativa da OSS de eliminá-lo - ao mesmo tempo em que o cientista se mostra numa relação meio "chove-não-molha" com Miss Dotty, secretária e filha do chefe do serviço secreto.

No terceiro número de Fantar temos também mais duas histórias, a primeira, Os Invasores, é uma das mais divertidas HQs de ficção científica que eu já li. Fantar reaparece na Amazônia e ainda tem que enfrentar uma invasão alienígena, detonando vários discos voadores. Nesta história ele fica muito tempo sem receber cargas atômicas e por isso enfraquece, reduzindo-se ao tamanho de um ser humano - se serve de consolo, nesta mesma história Fantar acabou ficando mais inteligente. Como vocês puderam perceber, se no primeiro número Fantar era uma terrível ameaça, tanto no segundo quanto no terceiro número sem dúvida que o monstrengo teve papel de herói, salvando a humanidade. A segunda história do número 3 chama-se A volta de Mr. Leader - esqueci de dizer que ao final do número 1 descobriu-se que o homem que comandava as operações contra Fantar não era o verdadeiro Mr. Leader, mas um espião (ó, tempos de Guerra Fria) e aqui o verdadeiro chefe está de volta. Continua a busca por Fantar (que recupera seu gigantismo), e prossegue o flerte mal-resolvido entre Branny e Miss Dotty.

Quarto e derradeiro número de Fantar começa com Nas Portas de Shambála ("Sambála", na capa), onde o maior desafio de Fantar é um quebra-pau contra um tiranossauro na terra dos incas. A segunda HQ deste número 4 de Fantar, e que encerrou a participação deste personagem na História da História em Quadrinho no Brasil (pelo menos até agora), é pra fechar com chave de ouro: Os Inimigos de Miss Dotty é quase uma HQ erótica, mostrando fartamente as personagens femininas em biquínis - Miss Dotty, uma espiã da OSS, uma e outra coadjuvante. Bem, há alguns bandidos para nos lembrarmos que estamos lendo gibi de super-herói (um deles leva até golpe de judô de Miss Dotty), e Fantar aparece em três quadros, participação totalmente dispensável. Era o fim do gibi de Fantar, mais um sucumbido diante dos poderosos inimigos externos e internos, mas ainda presente na imaginação dos leitores da época e de novos leitores interessados e curiosos pela História da HQ brasileira. Alguns anos atrás surgiu um personagem estadunidense que tinha visual parecidíssimo com o de Fantar, um troço chamado Savage Dragon, uma das maiores porcarias da História dos comics, e ainda assim teve mais leitores brasileiros do que Fantar.

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