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Entrevista: Fabrício Velasco
Por Eloyr Pacheco
16/09/2005

Fabrício Velasco é um dos poucos na área de quadrinhos que se dedica exclusivamente aos roteiros. Por falta de opção, muitas vezes, o desenhista cria suas próprias histórias. Isso é comum aqui no Brasil, excetuando-se as obras autorais que conhecemos, porque não temos a indústria como foi concebida nos Estados Unidos. Tomara que, a profissionalização na área se estabeleça e que, cada vez mais, tenhamos escritores se dedicando aos roteiros de quadrinhos.

Esta entrevista foi pensada, com esse propósito, mostrar que HQ não é apenas arte/desenho/ilustração. Principalmente no caso da Ronin Soul, que muitos não percebem o profissional do texto por trás da obra, só o profissional do traço é visto. Boa leitura!

Como foi que surgiu o projeto de Ronin Soul e a sua parceria com Rod Pereira?

Bem, a minha parceria com o Rodrigo é muito mais antiga que o Ronin Soul, somos de um mesmo círculo de amigos desde a infância e pode-se dizer que desde que nos conhecemos, nós nos entendemos bem.
Costumamos dizer que pensamos muito parecido, daí a principal razão de nossa parceria dar certo. Já o Ronin Soul é o projeto mais importante que fizemos juntos, é um processo que começa na base da confiança, assim como eu confio em seu trabalho como desenhista e colorista, ele acreditou em meu trabalho como criador e contador de histórias, não tinha na verdade como ele saber antes se iria realmente gostar de meu roteiro para esta série, mas, felizmente, depois de escrito ele gostou e se empolgou com o roteiro, ali surgia o projeto Ronin Soul, é claro que transformar essa idéia em realidade já é um outro processo que não é nada fácil, portanto a partir daí iniciamos uma luta quase que diária para manter o projeto em crescimento! Mas como somos muito parecidos em pensamento, nosso lema é nunca desistir...

A arte pintada de Ronin Soul, tem chamado a atenção, pois claro, a parte visual é o que primeiro se observa em uma revista de Histórias em Quadrinhos. Fale um pouco de como é o processo, o sistema de trabalho de vocês: do roteiro a página finalizada.

Bem, a pintura da Ronin Soul é um ponto chave e certamente o mais trabalhoso da HQ. É o que toma a maior parte do tempo na produção e justamente por isso, nós damos uma grande atenção à pintura, eu participo da produção da revista em todos os passos, mesmo quanto a arte, pois decidimos juntos o que fazer em cada quadro.

E é justamente pelo fato de que a pintura é tão trabalhosa que acabamos dando ainda mais enfoque e atenção a cada quadro de pintura nos quadrinhos, afinal, já que teremos tanto trabalho para pintar uma página, nada mais justo que a tratemos com o devido respeito. Então estudamos ângulos, cenários, cada detalhe da cena, quadro a quadro, pois para nós cada quadrinho é precioso.

E é com esse preciosismo que trabalhamos cada quadrinho da revista, com uma enorme atenção aos detalhes, pesquisa de informações históricas, cores e roupas, cenários, e tudo o mais para que possamos "oferecer" a maior qualidade possível por centímetro quadrado de arte pintada.

Comercialmente falando, como está sendo a aceitação da primeira edição de Ronin Soul?

Acreditamos que ainda estamos começando e talvez muita gente que goste de quadrinhos ainda não tenha visto nosso trabalho, mas certamente acreditamos nele como um bom entretenimento e esperamos alcançar muito mais pessoas e confiamos que com o tempo teremos alcançado nossos objetivos.
Mesmo que as histórias em quadrinhos em geral ainda sofram de um certo "preconceito" no Brasil e muitos ainda não vêem esta arte como uma forma de entretenimento, ainda acreditamos que muita gente irá descobrir o prazer de ler uma boa história em quadrinhos nacional, seja a Ronin Soul, ou muitas outras boas HQs que temos por aí, só esperando para serem descobertas!

Por outro lado, não comercial, temos recebido diversos elogios das pessoas que leram a primeira parte de nossa série e isso é hoje a nossa maior conquista e satisfação. Faz com que todo o nosso esforço até agora tenha valido a pena, e muito! Essa é certamente a melhor parte de nosso trabalho, ver nosso trabalho ser reconhecido!

Quais os planos de continuidade da série?

Depois de ter colocado tanto de mim e por tanto tempo em um projeto como a Ronin Soul, acredito que posso falar por nós dois que não pretendemos mais parar. Como em um caminho sem volta, escolhemos nossa trilha e pretendemos segui-la sempre. Mesmo quando tivermos terminando completamente nossa série, sempre haverá algo novo para se trabalhar, um projeto novo para desenvolver e muito mais pelo o que lutar. Acredito que isto resume bem o que fazemos. Estamos fazendo HQs porque é o que realmente gostamos e não vemos motivos para parar de fazer o mesmo. Portanto, podemos dizer que estaremos sempre aqui, trabalhando com a Ronin Soul e além.

Você poderia explicar seu processo de criação de roteiros e suas fontes de inspiração e de pesquisa?

Um processo de criação nunca é algo simples o bastante para se resumir em uma única resposta, mas vou tentar. Certamente, tudo começa com uma idéia, às vezes uma idéia simples, que aos poucos vai ganhando proporções.

Eu acredito que sou uma pessoa criativa e vivo tendo idéias, Ronin Soul foi apenas uma delas, que inclusive, é uma idéia de dez anos atrás. Mas uma idéia é apenas o começo, uma idéia ainda precisa ser moldada em algo que realmente valha a pena se contar, Ronin Soul é uma delas que se tornou, através de muita pesquisa e aprimoramento, um projeto muito complexo, cheio de possibilidades, e em outras palavras uma "delícia" de se trabalhar. Pois com a história de Ronin Soul muitas coisas são possíveis no decorrer da trama e em matéria de personagens, além de que nada está lá por acaso. Os samurais, por exemplo, são um ótimo pano de fundo para a história, pois oferecem realmente muitas possibilidades, os samurais vestiam-se de muitas cores diferentes, e suas armaduras eram mais "alegóricas" do que realmente funcionais, além de terem uma cultura riquíssima que era baseada na honra. Além disso, viviam em ligação com os elementos básicos da natureza e acreditavam na reencarnação do espírito. Enfim, tudo se encaixa bem para a trama e nada está ali por acaso.

As minhas fontes de pesquisa são diversas, vão desde livros sobre o tema Samurai a até muita pesquisa feita pela Internet. Mesmo que busquemos na Ronin Soul uma abordagem cinematográfica, não utilizo filmes como referência em argumento, utilizo-me de coisas e fatos reais, como fatos históricos, por exemplo, pois se você pesquisar o bastante, verá que em muitos casos a realidade consegue ser mais incrível que a ficção.

Assim, em uma alusão simples, em vez de me basear em J.R.R. Tolkien para produzir um romance de "fantasia medieval", tento primeiro basear-me nas próprias fontes de Tolkien, como a mitologia Nórdica, os mitos ingleses, o conto do KaleVala Islandês e por aí vai. É mais ou menos por aí que penso na hora de "buscar inspiração".

O Bigorna agradece a Fabrício Velasco pela entrevista.

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