NewsLetter:
 
Pesquisa:

Entrevista: Altemar Domingos
Por Eloyr Pacheco
03/08/2005

Como foi que você se interessou por quadrinhos?

Desde criança, eu sempre gostei de desenhos animados e de rabiscar os móveis da minha mãe. Mas foi em 1982, quando eu comprei um gibi do Homem-Aranha, da extinta RGE, que me veio o interesse em ler HQs. Lembro que era uma história em que Peter (Parker) voltava para casa e encontrava com o clone da Gwen Stacy na porta da sua casa. Nesta história também aparecia o Chacal. Nessa época, eu tinha 8 anos.

Você é autodidata ou estudou desenho?

Sou autodidata, mas criei um esquema de aprendizado para desenvolver minha percepção. Esquema que hoje eu uso e aplico em meus alunos, no curso de Desenho Básico para Quadrinhos que leciono. Aliás, ser autodidata, no meu ponto de vista, nos dá muito mais realização e sastifação, a cada trabalho concluído, a cada estágio alcançado, a cada evolução significativa em nosso traço. É por isso, que realmente tenho muito orgulho do que faço e acho que todos os desenhistas de quadrinhos que querem ou se julgam profissionais nesse ramo, deveriam também ter muito (muito) orgulho disso.

Como surgiu a personagem Jaguara e o projeto de publicação?

Em 1995, me veio a idéia de criar uma personagem feminina brazuca. Não queria nada urbano ou futurista. Uma índia guerreira foi até óbvio. Bom, eu tinha a personagem principal, mas faltavam os coadjuvantes. Foi aí que comecei a pesquisar, dentro dos meus limites de tempo e grana. Li uma vez uma matéria que falava sobre os Krenakores, feito pelo Orlando Villas-Boas. Era isso que eu queria, pois uma personagem principal precisa de coadjuvantes tão ou mais interessantes que a mesma, para que se possa criar roteiros bons. Faltavam ainda os vilões. Seria óbvio, que em uma terra selvagem iriam ter guerras entre tribos e disputas por território e poder. Mas eu queria introduzir personagens sobrenaturais e pesquisando um pouco a cultura indígena, encontrei muita coisa interessante e disso surgiu, por exemplo, o Jurupari e o Tupã. Só que eu queria mostrar algo mais sombrio e conhecido, foi quando me deu o estalo: nosso Folclore! Fiquei maravilhado e super empolgado com os personagens fantásticos que encontrei! Visando o público jovem também, resolvi dar uma roupagem mais moderna e agressiva ao visual destes personagens. A versão que dei ao Saci-Pererê me deixou muito satisfeito e orgulhoso, mudando seu nome para Sací-aíba (Diabo Saci, em Tupi antigo). Mas foi no visual do Tupã que eu me realizei nesse trabalho. Bom, faltavam os nomes, inclusive da personagem principal. Aí, entrou o vasto conhecimento do Dr. Eduardo Navarro, professor de Tupi antigo na USP e um dos maiores especialistas da língua no Brasil, pessoa singular que tive o prazer de conhecer em 1996 e que hoje, além de colaborador no projeto, é meu amigo pessoal. A idéia inicial (1996) era fazer uma mini-série em 4 edições de 24 páginas cada. Mas com o passar dos anos, percebi da maneira mais difícil, que isso seria inviável para este projeto, devido ao alto custo de investimento que uma editora teria de fazer. A idéia do formato livro foi da Via Lettera e eu achei muito melhor, inclusive para meu futuro leitor, e esse será o formato que sempre seguirei daqui para frente.

Como você encara o desafio, se é que você vê assim, de publicar uma HQ com temática nacional (tão brasileira)?

Sempre ouvi falar em dificuldades nesse ramo e, acreditem, em meus poucos anos de experiência, descobri um imenso abismo, em termos de oportunidades e estrura de mercado, que nos separa de outros países consumidores de HQ's. Mas, eu acredito que se a gente não encontra uma oportunidade, devemos então criá-la! Foi o que eu fiz. Demorou alguns anos, mas o resultado foi e está sendo, imensamente gratificante e recompensador. Quase tudo está saindo do jeito que eu imaginei, em relação ao objetivo que eu tracei a mim mesmo! Publicar aqui significa ter objetivo e perseverança sempre! Aí o sonho rola! Mas a publicação em si, não foi tão desafiador quanto criar a personagem e seu universo. Isso sim foi gigante! É aí que o desenhista se sente importante, quando ele cria. Quis fazer este trabalho tão patriótico para, humildemente, mostrar que nossa cultura e folclore tem muito a oferecer, para quem acreditar em seu potencial. Tanto leitores, quanto editoras e empresas. Acho que o caminho é esse.

O Bigorna agradece a Altemar Domingos pela entrevista.

Quem Somos | Publicidade | Fale Conosco
Copyright © 2005-2024 - Bigorna.net - Todos os direitos reservados
CMS por Projetos Web