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Por Eloyr Pacheco 12/07/2005 Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula (Editora Contexto, 2004), organizado por Ângela Rama e Waldomiro Vergueiro, com textos de Alexandre Barbosa, Paulo Ramos e Túlio Vilela, pode ser lido com facilidade numa sentada. Isso pode ocorrer, não simplesmente pelo tema ser atraente, mas, especialmente pela sua ótima organização e pela adoção de uma linguagem simples. Por pura cátedra, o fato de ser dirigido a professores, poderia ser uma tentação para a utilização de uma linguagem formal e chata, o que poderia afastar os interessados pelo tema. O primeiro capítulo intitulado Uso das HQs no Ensino, apresenta uma visão histórica dos quadrinhos, enfocando o Código de Ética - censura pela qual passaram as HQs nos anos 1950 - e o uso das mesmas na alfabetização, com destaque ao trabalho realizado na China no governo Mao Tse-Tung, contraditoriamente ocorrido nos mesmos anos de censura pelo qual os quadrinhos passavam na América. O segundo capítulo, A Linguagem dos Quadrinhos - Uma "Alfabetização" Necessária, trata da linguagem das HQs, muito próprias da arte seqüencial: vinhetas, balões, onomatopéias... Capítulo essencial para aqueles que não têm conhecimento da linguagem dos quadrinhos. Depois desses dois capítulos, o livro entra no seu objetivo principal: apresentar as HQs como ferramentas de ensino. São quatro os capítulos com este fim: Os Quadrinhos em Aulas de Língua Portuguesa; Os Quadrinhos no Ensino de Geografia; Os Quadrinhos na Aula de História e Os Quadrinhos no Ensino de Artes. Na Língua Portuguesa, as dicas podem parecer simples, mas são muito atraentes para os alunos, especialmente os do ensino básico. Pesquisar, por exemplo, a linguagem rural através das histórias de Chico Bento, de Mauricio de Sousa. E pensar que muitos professores chegam a cogitar a proibição de "determinadas leituras" imaginando que isto possa vir a interferir na boa formação do aluno, ranços do preconceito ainda existente, infelizmente. Na Geografia ler o clássico Tintin, de Hergé, é altamente aconselhável. Mas, no capítulo, demonstrando nenhum preconceito por parte dos autores, indica também obras de super-heróis como material de sala de aula. Ambientado no Rio de Janeiro, Wolverine - Rio de Sangue (personagem que se tornou bastante conhecido depois que roubou a cena nos longas-metragens X-Men e X-Men 2) é um prato cheio para muitas discussões. Isso pode ser um choque para muitos teóricos. Bravo! Em aulas de História os alunos poderão ler desde Príncipe Valente, de Hal Foster, até Conan, criação de Robert E. Howard. Mas, alguns dirão, que o anacronismo é a base destas histórias, e os autores retrucarão explicando que assim também é possível se ensinar, pois, basta uma pesquisa histórica para poder mostrar o que é real e o que é imaginário nestas histórias e o que pertence a estas épocas ou não, mesmo nas de Conan, época que certamente nem chegou a existir. Nas aulas de arte, nem é preciso explicar muito para deixar claro que para se fazer uma História em Quadrinhos é necessário um vasto estudo de anatomia (humana e animal), perspectiva, cenário (arquitetura), luz e sombra, vestuário, etc... Sem contar enquadramento, instante fotográfico, timing... Na obra, uma única correção se faz necessária: na página 141 há uma ilustração de Cavaleiros do Zodíaco, mencionada como sendo de Vagabond. Como usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula cumpre seu objetivo a contento. Abre caminho para uma vasta e importante discussão: afinal, o ensino precisa ser mais atraente, especialmente na atualidade onde crianças e adolescentes têm ao seu dispor videogames, internet e tevê a cabo, a sala de aula precisa deixar de ser monótona.
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