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Por Eloyr Pacheco 01/07/2005 Embora sobreviva com publicidade e ilustrações para revistas, Laudo Ferreira Junior, ou simplesmente Laudo, nunca deixa de estar publicando em fanzines, como ele mesmo afirma nesta entrevista. Sempre atento ao seu tempo, tem quadrinhos disponibilizados no site da Nona Arte para download, uma das questões que debatemos nesta conversa que agora disponibilizamos para você. Aproveite. Eloyr Pacheco - Eu sei que você tem vários estilos de arte, você é um artista versátil (só assim para sobreviver em um meio tão competitivo, não é mesmo?!). Mas, será que, pelo menos durante um bom tempo, você não ficou rotulado como "o desenhista das histórias do Zé do Caixão"? Isso foi bom ou ruim para você? Laudo Ferreira Junior - Olha, não creio que hoje em dia perdure este "rótulo", pois afinal de contas já faz dez anos que foi publicada À Meia-Noite Levarei sua Alma (adaptação do primeiro filme do Zé do Caixão) pela Nova Sampa. Acredito que na época e durante algum tempo sim, mesmo porque andei publicando mais algumas HQs curtas do personagem e isso, é claro, colaborou, mas pelo próprio fato de eu não ter dado continuidade a este trabalho acredito que hoje é mais um referencial. Tive elogios e tive críticas pelos quadrinhos do Zé do Caixão que fiz e, afinal de contas, é assim mesmo. Ter feito quadrinhos do Zé do Caixão e ser reconhecido uma época como "desenhista do Zé do Caixão" foi muito bom, ajudou de certa forma, a projetar meu nome no meio "quadrinhístico" e entre fãs do personagem e foi uma honra ter trabalhado com um mestre como o Mojica. [N. do E.: José Mojica Marins, o Zé do Caixão.] Esta coisa de rotular é algo curioso, pois antes de desenhar o Zé, fiz durante dez anos, de 1983 até 1993 uma série de tiras chamada A Voz do Louco, que publiquei em diversos jornais do Brasil, em zines e em um jornal em Portugal e outro da Espanha. Aqui durante um bom período, o pessoal me conhecia só pelas tiras, mesmo eu produzindo material para a Press Editorial, Nova Sampa, Noblet e Editora Hamasaki, de outros gêneros, como terror, erótico e aventura. Muitas vezes eu ia em algum evento de quadrinhos e quando era apresentado para alguém, este alguém dizia: "Ah, o Laudo do `Louco´!". Enfim, parei de produzir estas tiras em 1993 e em 1995 publiquei a adaptação do filme do Mojica e acredito que hoje, quase ninguém que de certa forma acompanha material nacional e que conhece meus trabalhos, se lembra disto e acho que os quadrinhos do Zé, embora, como disse, hoje seja uma referência, já ficou pra trás na cabeça das pessoas. Sei que você é muito conhecido entre os fanzineiros. Mesmo trabalhando com publicidade, que é o seu ganha-pão, você ainda continua publicando em fanzines? Quase nada. Uma pin-up, uma capa e muito vagamente. Não tenho tempo, o que é uma pena, mas é assim. De 1986 até 1992, produzi e publiquei bastante coisa, inclusive chegando a lançar revistas independentes que tiverem excelente retorno, como Balada para o Futuro em 1986 e O Duelo (esta editada pelo Edgard Guimarães) em 1992. Muitos mestres como [Julio] Shimamoto e Mozart Couto vez ou outra também colaboram com zines, mas com participações pequenas, com pin-ups e capas também. Foi através dos fanzines que conheci muita gente bacana e grandes artistas como Flavio Calazans, Gazy Andraus, Emir Ribeiro, Edgard Guimarães, e tantos outros. Participar de fanzine é uma experiência positiva, principalmente quando se está começando. É um ponto para avaliação de como anda seu trabalho. De alguns bons anos para cá, infelizmente, devido a meu ritmo de trabalho, minha própria produção de quadrinhos diminuiu muito, me levando a trabalhar em projetos únicos, ou seja, trabalhos isolados (no momento estou produzindo uma HQ longa, que já venho produzindo há três anos e que devo enfim, terminá-la em início de 2005) e me fez afastar também do meio zineiro, hoje, com exceção de um ou outro que mantenho contato e colaboro eventualmente, estou completamente por fora do que está havendo no meio. Como foi trabalhar com André Diniz, da Editora Nona Arte, em Subversivos? Quadrinhos para download na Internet é o futuro? Foi um dos trabalhos que mais curti fazer. Foi através da produção deste quadrinho que comecei a perceber uma série de novas possibilidades no desenho, pois até então, estava viciado em só produzir no traço "acadêmico", o que vinha limitando muito meu trabalho, principalmente em algo que busco hoje que é a expressividade. Às vezes perde-se uma grande imagem que está na cabeça, pelo limite de se desenhar no traço "sério". Isto eu falo no meu caso específico. Foi a partir de Subversivos: Companheiro Germano que pude ver o que deveria fazer em Ele, meu novo trabalho em quadrinhos. O [André] Diniz é um dos melhores roteiristas que apareceram nos últimos tempos. Sua forma de pensar enredos é muito parecida com a minha, por isso não foi difícil trabalharmos juntos. Acredito que esta idéia de "futuro" dos quadrinhos na internet é algo relativo, pois já é mais uma forma de se ver/ler quadrinhos, acredito que a internet não vá tirar totalmente o espaço da revistas, mesmo elas estando em baixa em tantos lugares do mundo. Para os autores novos, que estão sedentos de verem seus trabalhos conhecidos pelo público consumidor, o download gratuito, como no caso do site da Editora Nona Arte é uma forma de muitos terem acesso a estes trabalhos, visto que no papel, a maioria não tem onde publicar, no Brasil, especificamente falando, e é onde conheço um pouco, o mercado não está aberto a todos e acaba sendo um veículo, como foram os fanzines antigamente. Por outro lado, é importante perceber que as histórias em quadrinhos, assim, como os livros, foram feitos para leitura "manuseada" e não com um mouse, pelo menos é o que eu penso. É óbvio que também empacamos na questão profissional quando falamos do download gratuito, o artista tem que ser remunerado pelo seu trabalho e não é o que acontece aí, óbvio, mas uma arte feita num país onde não se tem mercado e poucos editores competentes, fica sempre difícil: por um lado não se deve de hipótese nenhuma frear o instinto criador desta moçada nova e daqueles que têm muito material engavetado, não se deve privar os leitores de às vezes conhecerem grandes obras, daí o download gratuito e fanzines servem nas suas funções; por outro lado tem que se brigar para as revistas estarem nas bancas e livrarias especializadas. Acredito que o quadrinho erótico sempre vai ter espaço, existe um bom público consumidor. No caso da revista Total, já trabalhava como ilustrador da revista Sexy e certo dia no ano de 2000, o editor na época Licínio Rios, me chamou na redação para falar de um projeto da editora em lançar uma versão "formatinho" da Sexy com preço popular, direcionada a um público de menor poder aquisitivo e uma da idéias seria lançar uma série em quadrinhos com personagens fixos. Eu e o Licínio desenvolvemos então a Tianinha, uma loirona sedutora, devoradora de homens. Na ocasião chamei o roteirista Marcos Pereira para desenvolver as histórias, que mais seriam situações, visto o limite de quatro páginas que temos para produzir as HQs. Enfim, após um ano foi constatado após uma pesquisa com leitores, que os quadrinhos eram uma das seções da revista que mais gostavam de ler. A série, a partir daí deslanchou, ao ponto de já estarmos produzindo há quatro anos, com duas edições especiais lançadas. O Bigorna agradece a Laudo Ferreira Junior pela entrevista (concedida em 17 de novembro de 2004). |
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