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Por Matheus Moura 10/03/2011 O site Zinescópio, do gaúcho natural de Santa Maria (RS) Jamer Mello, há quase dois meses no ar tem uma proposta ousada: ser um grande banco de dados de fanzines na internet brasileira. E essa iniciativa teve respaldo do público. Jamer explica que, só na estreia do blog, houve mais de 700 visitas. “A aceitação foi imediata. 700 acessos no primeiro dia do blog, dezenas de e-mails elogiando a inciativa. De lá pra cá, diversos contatos e colaborações. Muito bacana. O blog tem um mês no ar, com uma média de 160 acessos diários”, conta o editor. Com início tímido, digitalizando seu acervo pessoal, Jamer passa agora a ter como meta a publicação de, no mínimo, um fanzine em PDF por dia. Tudo sem se limitar a estilo, gênero ou localidade – seja quadrinhos, literatura, poesia, música etc. Atualmente o leitor que passar pelo Zinescópio tem a disposição mais de 30 fanzines para baixar gratuitamente. Para visitar o site e conferir as novidades diárias por lá, clique aqui. Abaixo, em rápida entrevista, Jamer explica melhor a proposta e como surgiu a ideia do site, além de contar um pouca da carreira de fanzineiro. Confira: Como surgiu a paixão pelos zines e há quanto tempo? É zineiro ou só leitor? Comecei a editar fanzines na escola, em 1994, em Santa Maria. Fiz um "jornalzinho" da escola com a ajuda de alguns colegas, com quadrinhos e charges zoando os professores, e outros textos. Fui expulso do Diretório Estudantil na segunda edição do fanzine, devido ao material publicado, que foi taxado de inapropriado. Em 2000 comecei a escrever uma espécie de "coluna" chamada Inforégo, com crônicas, contos e resenhas de discos, filmes e livros. Enviava esses textos por e-mail e logo virou um site (e-zine) que ficou no ar em 2001 e 2002. Esse material se perdeu, e o site não existe mais. Depois editei um fanzine impresso chamado Badalhoca, sobre cultura pop em geral. Foram lançadas 3 edições, em 2004 e 2005. Na verdade o fanzine não morreu, e pretendo produzir mais números em breve. A segunda edição, inclusive, foi um projeto interessante, encartando o CD de uma banda de Santa Maria, chamada Pastor Alemão e a Murcilha da Graça. Os exemplares desta edição, na época, foram vendidas por um valor que custeasse a produção dos CDs e as cópias dos zines. Colaborei com sites, blogs e fanzines impressos. Como surgiu a ideia de montar o site? Possuo uma grande coleção de fanzines impressos. Utilizei essa coleção na minha pesquisa no mestrado (mestrado em educação, defendido em agosto de 2010, na UFRGS), inclusive como referência bibliográfica. Utilizei também em algumas oficinas que ministrei. Hoje em dia com o acesso à informação online e cada vez mais rápido achei interessante disponibilizar essa coleção na internet, digitalizada. Quantos zines já possui scanneado e quantos serão ao todo? Estou digitalizando aos poucos e tenho pouco mais de 30 fanzines escaneados até agora. Não cheguei a fazer uma contagem da coleção, mas creio que tenho cerca de 300 exemplares de fanzines de vários lugares do Brasil, de diversos gêneros (música, quadrinhos, literatura política) e formatos. Desde quando o site está no ar? O site está no ar desde 25 de janeiro deste ano. Comecei meio por acaso, digitalizei alguns zines em janeiro, e acabei colocando na rede. Na mesma semana tive a idéia de criar um blog, pra organizar e divulgar melhor. De um ano para cá os fanzines voltaram a chamar atenção. A que se deve isso? 2011 está se mostrando um possível ano para um "revival" dos fanzines impressos, ou pelo menos um retorno da discussão sobre a linguagem e os mecanismos de ação dos fanzines. O documentário Fanzineiros do Século Passado, o Anuário de Fanzines do Ugra Press, o Ugra Zine Fest, a Fanzinoteca Mutação, o Zinescópio, a Tour de Zines que aconteceu na Bahia e em São Paulo acabaram dando uma mexida nessa cena um tanto adormecida dos fanzines. Sem esquecer dos estudos de pós-graduação do Gazy Andraus e a Editora Marca de Fantasia (Henrique Magalhães / Edgard Guimarães), que apesar de serem iniciativas de longa data incentivam e possibilitam essa movimentação e esse revival em pleno 2011. Acho que tem um charme no fanzine impresso que é imortal e parece que estas iniciativas que apesar de terem o mesmo tema como motor - o fanzine - são ações independentes umas das outras, que acabam coincidindo numa mesma época e evidenciando a potência dos fanzines em pleno 2011. Como percebe a cena dos fanzines hoje? Tenho me fixado mais nos estudos em educação, e utilizado a estética e a tática dos fanzines de uma forma mais pontual. Como a minha preocupação de estudo não é com a cena, com a distribuição, ou com a rede, e sim com o mecanismo articulador do “dizer” do fanzine, ou melhor, minha preocupação é com aspectos que dizem respeito à linguagem libertadora do fanzine em sala de aula, acabei me distanciando um pouco das cenas. Parei de trocar fanzines há algum tempo. O próprio Badalhoca, meu zine, em 2004 e 2005 teve pouca circulação via correio. A coisa ficou mais na mão, mesmo. Um resgate interessante dessa rede de troca e contato que se estabelece sobre o fanzine e principalmente os aspectos que levaram à sua formação é um dos aspectos mais positivos, pelo meu ponto de vista, de ações como a de Márcio Sno ao produzir o documentário Fanzineiros do Século Passado. Fanzines e internet. Esse é um ponto bastante interessante e atual. Outro dia eu estava pensando sobre os zines, sobre as trocas e principalmente sobre as informações. O que acontecia comigo e com muitos de meus amigos é que muita informação nos anos 90, sobre bandas principalmente, mas também sobre arte, sobre cinema e sobre quadrinhos precisava ser "garimpada". Naquela época as informações eram preciosas. Revistas como Bizz, General, as gringas, e a opinião e o conhecimento dos amigos eram a essência desse "garimpo" cuidadoso. Gravar em k7 um disco recém lançado era uma tarefa difícil, dependendo do disco e das condições. Uma banda lançava um disco lá fora e demorava meses pra chegar aqui no Brasil. Depois demorava meses pra você encontrar alguém que tivesse comprado o disco. Então você tinha um arsenal de fitas k7 virgens, levava na casa de um amigo e gravava (ouvindo) o disco todo. Agora basta um clique e uma conexão ADSL pra baixar o disco todo em poucos minutos. Os zines tinham um papel importantíssimo para a cena independente, em qualquer lugar do mundo. Era uma forma de mostrar e distribuir algo que poderia ficar restrito a poucas pessoas. O alcance do zine era pequeno, ainda assim. Hoje em dia, competir com a internet, neste sentido, é um contrasenso. Essa função o fanzine não cumpre mais, e jamais conseguirá cumprir novamente. Acho que, hoje em dia, o fanzine em papel pode desempenhar outras funções. Uma delas, por um lado, é parecida com a do vinil. Uma questão estética, de beleza e de tato. Um charme do colecionador, para o colecionador. Outra característica, que é própria dos zines é a estética suja, borrada, da colagem, do amadorismo, do xerox. Isso a internet não tem. A importância dos fanzines hoje. O fanzine possui um mecanismo de sedução interessantíssimo. Este é, por exemplo, um dos trunfos da utilização dos fanzines como suporte de experimentação em sala de aula e outras situações pedagógicas, exercitando a criatividade, a arte, a escrita, o pensamento. Esta propriedade que eu chamei de "mecanismo de sedução" é particular da essência dos fanzines, é extremamente potente, e é aí que reside, a meu ver, um dos motivos que podem impulsionar alguém, hoje em dia, a produzir um fanzine. Porque é esta característica que os distinguem das redes sociais e dos blogs. Portanto acredito que um fanzine não pode mais ser produzido com o intuito de fazer circular uma informação, pois pra isso existe a internet, que cumpre esse papel de forma muito mais eficiente (e é por isso que estamos fazendo essa entrevista por e-mail e não por carta, por exemplo, por causa de uma eficiência comunicacional). Mas um fanzine pode ser produzido atualmente com outros intuitos. Esses outros intuitos, que são diversos, e dependem de cada um, de cada anseio, é que dão importância aos fanzines impressos nos dias de hoje. |
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