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DUM SPIRO, SPERO ou: Uma alegoria “imaginada”
Por Roberto Guedes*
28/11/2006

Gibi era uma coisa muito legal, não é? Você podia lê-lo em qualquer lugar, podia dobrá-lo, fazer “canudo”, guardar no meio do caderno escolar... enfim, era prático pacas! E ainda divertia. Uau! Mas hoje em dia, para muita gente, História em Quadrinhos atingiu o status de arte, devido ao requinte dos roteiros e dos desenhos, ou até mesmo pelo acabamento gráfico empregado em muitas edições. Para outros, entretanto, ainda trata-se de pura curtição... de um desbravar de novas e emocionantes aventuras... a cada folhear de página... a cada balão percorrido.

Roger fazia parte desses “outros”. Sujeito simples... de gostos simples, muita gente confundia esse seu jeitão com ingenuidade e, até mesmo, com um pouco de burrice. Mas Roger, de burro, não tinha nada. Ele sabia das coisas (...) Entendia como poucos o “mecanismo” de produção de uma História em Quadrinhos. Entendia o “espírito” de uma História em Quadrinhos. E foi trabalhar com isso. Cheio de idéias, quis logo colocá-las em prática. Ledo engano... mesmo para alguém tão inteligente. Afinal, inteligência não tem nada a ver com os bastidores modorrentos das Histórias em Quadrinhos. Roger, coitado, tinha plena convicção de que, para se popularizar um título, bastaria que seguissem um fundamento primordial: “faça um bom gibi”. Mas todos riam dele, achavam que estava com um parafuso a menos ou que era um simplório... até mesmo “ultrapassado”.

Afinal, como desconsiderar o papel brilhante, a capa dura e o efeito de verniz? Ingredientes básicos para conquistar o leitor refinado das gibiterias – reduto, diziam seus algozes, da grande massa “nerdesca”, afetada e baba-ovo que formava o fandom local. “Meu, é isso que vocês pensam de seu público?” – esbravejou Roger.

Mas lhe deram de ombros.

E não parou por aí. Fez uma proposta para se investir em novos talentos. Uma espécie de estúdio de produção. Muita gente fizera isso no passado, manja (?)... num passado nem tão longe assim. Era mais uma de suas idéias simples... porém, simplesmente genial. Só que, outra vez, foi categoricamente despachado. Afinal, convenhamos: para que esquentar a cabeça com investimento intelectual e artístico?

E Roger foi embora.

Não havia mais nada para se fazer naquele “meio”. Ninguém lhe dava ouvidos. Ninguém queria saber de suas idéias caquéticas, que cheiravam a mofo. Quer saber? Talvez Roger nem fosse tão inteligente assim... talvez ele fosse mesmo um “caipirão”. Era o caso até de perguntar para Roger – sujeitinho metido, sabe – se ele estava satisfeito agora, vendo que os Quadrinhos não precisavam dele tanto assim... ou melhor... que jamais precisaram. Mas ninguém teria coragem de dizer isso em sua cara. E nem era por causa de um possível rompante de fúria, afinal, Roger era um sujeito sossegado. O fato, é que todo mundo sabe a resposta que Roger daria: “E você, está satisfeito com os Quadrinhos?”.

Roger é o cara. E enquanto eu respirar, continuarei esperando por ele.

* Este ensaio é dedicado a todos aqueles que não desistem de seus sonhos, mesmo quando tudo e todos dizem que você é louco.

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