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Funilaria e Pintura
Por Dark Marcos
26/04/2010

A editora norte-americana Marvel Comics tornou-se um das mais bem sucedidas a publicar quadrinhos de super-heróis. O Universo de personagens Marvel, bem como a franquia que envolve todos eles, é uma das mais rentáveis e caminha para ser uma das mais reconhecidas pelo grande público. Pode-se dizer que chega a eclipsar a concorrente, a editora DC Comics (lar dos heróis como Superman e Batman), levando-se em conta que esta existe a mais tempo do que os marvelísticos heróis de Stan Lee.

Isso hoje! Pois nem sempre foi assim!

E se existe alguma teoria afirmando que tudo é fruto de uma gestão competente e planejada por décadas. Bem. Apesar dos trancos e barrancos, competência fez sim toda a diferença no acirrado mercado (indústria) de quadrinhos de super-heróis. Já planejamento é outra história. O começo das atividades do Universo Marvel mostra que os personagens foram criados sem nem mesmo se ter em mente o que fazer com eles.
A Marvel, como editora, na verdade, surgiu no final da década de 30. Seu primeiro gibi de Super-Heróis, o histórico “Marvel Comics # 1” trazia os personagens Namor, o Príncipe Submarino, Tocha Humana (o andróide, não o do Quarteto Fantástico), o Anjo (não o dos X-Men), Ka-Zar (um concorrente de Tarzan) entre outros mais obscuros. Mas foi só nos anos 60, década do renascimento do gênero Super-Herói, que o Universo Marvel começou a tomar forma, graças aos talentos criativos de Stan Lee e do desenhista Jack Kirby, não desmerecendo outros nomes famosos, como Steve Ditko entre muitos outros.

Porém, personagens como os do grupo Quarteto Fantástico simplesmente dão a impressão de que foram "jogados" para o leitor sem que seus criadores tivessem idéia do que estavam lidando. A desvantagem com a concorrência (ainda a DC Comics e seus heróis) é que a Marvel não tinha nenhum personagem famoso para lutar no mercado. Ora, mas a coisa tinha que começar de algum ponto! E esse ponto foi justamente o surgimento do Quarteto Fantástico, em 1961. Para se ter uma idéia de como não se imaginava o que aquilo tudo iria se tornar, o Quarteto sequer tinha um uniforme colorido, típico dos heróis dos quadrinhos. Eram quatro pessoas que ganharam poderes fantásticos e lutavam usando roupas comuns ou macacões. Só mais adiante é que, de acordo com o sucesso com que os personagens iam ganhando perante o público, a coisa (e O Coisa) foram tomando a forma que conhecemos.

Homem-Aranha? Se acham que o azar de Peter Parker é lendário apenas em suas histórias, saibam que o personagem já nasceu coitado! Foi publicado pela primeira vez, em Agosto de 1962, em uma revista que foi cancelada justo em sua primeira história. E, depois, muito depois. Meses depois, é que o personagem teria uma segunda chance, em sua própria revista. Só então, por puro golpe de sorte (e o carinho dos leitores) é que foi escalando o sucesso ao qual desfruta hoje.

Mas o caso mais gritante de como os heróis Marvel meio que foram sendo desenvolvidos ao acaso fica por conta do Homem de Ferro. Sua primeira história, publicada em Abril de 1963 na revista Tales of Suspense, em absolutamente nada se assemelhava com uma história de super-heróis. Era a história de uma industrial do ramo de armas para o governo que vai ao Vietnã e é capturado por nativos, ficando em cativeiro e só escapando graças a uma rústica armadura que criara junto a outro cientista em sua prisão. Ponto! Moral da história? O último quadro mostra o industrial, praticamente preso dentro da carapaça de ferro, triste pelo que lhe aconteceu, andando pela floresta. Ou seja, morte certa para o industrial que aprendeu a dura lição da guerra. Fim.

Maaaaas, aquela monstruosa e desajeitada armadura cinza-chumbo caminhando tristonha pela floresta parecia ter agradado os leitores. Resultado: o personagem, o mesmo personagem, apareceria no mês seguinte. Aparentemente era pra ser uma única história de suspense (afinal, era isso que o nome da revista citava). Mas, de personagem dramático de ficção, o Homem de Ferro passou a lutar contra o mal, ou o que se imaginava ser o mal naquela época.

Alguns ajustes necessitavam ser feitos aqui e ali. Armadura cinza-chumbo? Não rola. O negócio é pintar ela de dourada pra que as criancinhas não se assustem. Isso, o próprio personagem conclui ao notar que as pessoas temiam sua aparência de robozão alienígena. E Tony Stark, o playboy vaidoso e mulherengo, não podia carregar essa imagem. Com o tempo, e as novas aventuras, o visual do personagem foi ganhando um detalhe aqui, outro ali. Até se tornar algo mais leve, mais esguio, mais colado ao corpo, como os outros super-heróis costumavam parecer. Mais algum tempo se passou e também desenvolveu-se um elenco coadjuvante em suas aventuras, bem como uma galeria de vilões e arquiinimigos.

Reza a lenda que Stan Lee tinha o Homem de Ferro como uma de suas criações de que menos gostava (pois "detestar" seria um termo muito forte), pelo simples fato de que foi o único herói Marvel que criou que não tinha superpoderes. Tinha a armadura que lhe concedia capacidades especiais mas, ainda assim, era um homem comum dentro de uma armadura. Verdade ou não, o herói sobreviveu durante todo esse tempo, mesmo sendo considerado um personagem de segunda por séculos, ajustando-se ao mercado de forma a sobreviver até os dias de hoje. E, se sua popularidade caísse, bastava fazer uma pintura nova aqui, outro ajuste na lataria ali e por aí vai.

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