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Resenha: A Revolta
Por Cadorno Teles
21/11/2007

"Meu nome é Kalum au Kurea ru Kinaar, e sou Velho. Velho. Faz 38 primaveras que me penduro nos galhos, faz 38 primaveras que a terra sustenta minha sombra, faz 38 primaveras que, de asas abertas, enfrento e derroto vendavais e caminho para o norte em 38 migrações tão cansativas e duras que acabaram com meus ombros. (...) Como é de nosso costume, e com a benção da Criadora, eu vou contar a vocês o que se passou, palavra por palavra". (página 9-10)
 

O dramaturgo canadense Clem Martini cria em seu A Revolta (The Mob, tradução de Cíntia Braga, Rocco Jovens Leitores, 236 páginas, R$ 28,50), uma alegoria incomum e humorada entre um bando de corvos em sua migração primaveril e questões humanas, como sobrevivência, lealdade e união. Martini faz com esse que é o primeiro livro de uma série intitulada Pena e ossos: As crônicas do corvo, em inglês Feather and bone: The crow chronicles, uma tentativa de seguir o sucesso de nomes como Kenneth Oppel em seu Asa-de-prata, Margareth Marshall Saunders, Jack London, Elizabeth Marshall Thomas, entre outros, reavivando em seu país um gênero bem antigo na literatura infanto-juvenil: a biografia animal, com uma ressalva, molda em A Revolta uma narrativa com situações radicais enfrentadas pelo ser humano na atualidade.

Narrado por Kalum, um velho corvo de 38 primaveras, conta um caso ocorrido no auge de uma migração primaveril, onde centenas de corvos se reúnem anualmente para o Encontro dos clãs. O Clã de Kalum, os Kinaars, é ameaçado de perder a unidade familiar, após um incidente em que Kyp, um corvo jovem e impulsivo organiza sem consultar os mais velhos um ataque contra um gato que matara uma jovem cria. O bando acaba punindo o incauto, segundo as leis e costumes que Kyp desrespeitou. Contudo, o mesmo imprudente e curioso Kyp, depois de passar o período punitivo, consegue salvar o seu bando de uma inesperada tempestade de neve, levando-os a uma caverna, um abrigo seguro até uma escaramuça de um grupo de gatos com sede de vingança.

A Revolta apresenta o universo dos corvos: os seus costumes, crenças sobre os seres humanos, suas rotinas, os hábitos migratórios, o amadurecimento e até mesmo os mitos desses pássaros marginalizados em muitos livros como aves agourentas, como num dos mais famosos poemas da literatura internacional, O Corvo de Edgar Alan Poe, ou em muitas obras de Shakespearre. O autor cria uma narrativa com personagens bem caracterizados, ressaltando Kyp, Kym e Kuper, que com ousadia, curiosidade e inteligência antagonizam o grande conflito com os gatos. E a ação que o canadense dá aos ataques e atentados dos gatos é um dos pontos do enredo de mais clímax ao longo do texto. Em meio ao flashback, contado pelo velho corvo, a história soa como uma daquelas histórias de família passada de geração em geração, suas memórias parecem compor a ação naquele exato momento que ocorreu, Martini possui o dom de um bom contador de histórias e insere em seu narrador essa técnica.

A luta pela sobrevivência e pelo espaço junto com os seres humanos dá ao livro um toque ecológico. Questões essenciais da vida familiar e social são expostas para os leitores e o autor canadense explora, sem pieguice ou moralismo fácil, em A Revolta o respeito ao novo e ao antigo.

O Autor
Um ávido fã de corvos e gralhas, o canadense Clem Martini é um homem de muitos talentos. Um premiado roteirista e dramaturgo, ganhou por três Alberta Writer's Guild Drama Prize, agora inicia sua carreira para o público jovem. Martini é o atual presidente da Associação de dramaturgos do Canadá (The Playwrights Guild of Canadá). Mora em Calgary, Alberta com sua esposa e filhas, onde leciona drama na Universidade local.

 

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