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Resenha: O Conquistador
Por Cadorno Teles
16/11/2007

O que teria acontecido se um grupo de nativos ameríndios tivesse chegado à Europa antes da viagem de Colombo. Essa é a história levantada pelo argentino Federico Andahazi em O Conquistador (El conquistador, tradução de Antonio Fernando Borges, Planeta, 264 páginas, R$ 39,90), um romance que configura distintamente uma visão de reivindicação cultural, um ato de vingança, em forma de hipótese, para com os civilizados europeus que trucidaram o Novo Mundo. Andahazi é um dos grandes autores latino-americanos da atualidade, que vem causando polêmica – o seu primeiro livro, O Anatomista, ganhou o prêmio da Fundação Amália Lacroze de Fortabat que foi suspenso pela diretora da fundação pelo conteúdo do romance – mas também vem ganhando fãs nos muitos países em que é publicado.

Nesse seu mais novo romance, narra a história de Quetza, um jovem mexica órfão que teve a sorte de ser salvo do sacrifício por Tepec, um ancião tolteca, pertencente ao Conselho dos Sábios, que o cria e o educa, tornando-o um jovem brilhante que reúne o melhor da cultura do seu povo:  estabeleceu com exatidão o ciclo de rotação da Terra em torno do Sol, traçou cartas celestes antes de Copérnico, entre outras descobertas importantes e antecipando Cristóvão Colombo, deduziu que a Terra era redonda, e para comprovar, teria que fazer uma viagem ao oriente e regressar pelo ocidente. Quetza, guiado pelas profecias do calendário azteca e amparado por sua fortuna, consegue a autorização do imperador, se lançando em uma embarcação, armada por Machana, um velho perito em construir canoas que nunca navegou ao mar desconhecido. Será um verdadeiro périplo, impressionante para aqueles mexicas, pois a partir dela, irão buscar o futuro antes que o futuro venha e acabe com o seu mundo, além de conquistar esse futuro. Será o primeiro a unir dois continentes, e Andahazi consegue retratar a viagem contrária do genovês, colocando a jornada de Quetza pelo golfo, ao longo da costa da América Central, em encontros com caraíbas e outros povos nativos da região.

Os mexicas avistam a costa espanhola, e é nesse ponto que a narrativa tem o seu ponto crucial. Os valentes guerreiros, exaustos pelo périplo, alcançam um pequeno vilarejo de nome Huelva, e a primeira coisa que chama a atenção do conquistador, é o cheiro terrível dos seus habitantes cobertos dos pés à cabeça com grossas saias que se arrastam levantando a poeira das ruas. Sujos, parecem que não tomam banhos, vivem em lugares sem ventilação, fedendo como esterco. Presenciam barbáries nunca vistas, como a adoração a um homem brutalmente pregado a uma cruz, pessoas queimadas em fogueiras diante de multidões que festejam como selvagens e ambições desmedidas de riquezas e poder. Quetza, narrador da história, comprova que aquele Novo Mundo descoberto por ele é uma terra arrasada pelas guerras, por matanças e lutas pela supremacia entre as diferentes culturas que habitam naquelas terras. E que seria fácil conquistar aquelas terras, se não fossem os carros com rodas, as armas de ferro que atiram projéteis e um animal forte e dócil, o cavalo, e seu povo teria que se preparar contra eles, quando eles forem impulsionados em cruzar o oceano pelo desejo de estender seus domínios.

Retorna a sua terra, depois de ter dado a volta ao mundo, muito antes de Fernão de Magalhães pudesse imaginar tamanha façanha. Contudo foi logo silenciado e, tomado como um louco, foi desterrado ao esquecimento. Andahazi explora com maestria a hipótese da descoberta da Europa pelos aztecas, dando toques de humor e moral ao longo da narrativa. As observações de Quetza em relação aos povos são bem engraçadas e suas temerosas palavras em relação aos homens brancos, hipócritas, hediondos e gananciosos. Sensível e empolgante, O Conquistador estabelece um ponto de partida para estudar a história de nosso continente e pensar sobre nossas origens. O livro ganhou o prêmio Planeta 2006 – por sua originalidade, pela narrativa e pelo conhecimento das culturas americana e européia do século XIV. Uma crônica épica, escrita em uma visão entusiasmada de um tempo em que o mundo teve a oportunidade de ser outro. 
 

O Autor
Federico Andahazi, argentino descendente de húngaros, nasceu em 1963. Psicanalista, com contos premiados, resolveu escrever seu primeiro livro após se distinguir nos concursos Santo Tomás de Aquino, Desde la Gente y Buenos Aires Joven. O Anatomista (1996) o transformou em best seller, sucesso de vendas em mais de 40 países. E assim foi com Las piadosas (1998), El príncipe (2000), El secreto de los flamencos (2002) e Errante en la sombra (2004). No Brasil, A Cidade dos Hereges (2005) foi sua única obra lançada até então, em 2006, pela editora Planeta.


 

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