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Os Guerreiros de Jobah – Parte 1
Por José Salles
28/09/2007

As capas das duas primeiras edições de Os Guerreiros de Jobah

Na virada das décadas de 80 para 90 do século passado, a Icea Gráfica e Editora, localizada em Campinas-SP e especializada em livros para agricultores, tentou atingir um público diverso daquele a quem estava acostumada a servir: investiu no mercado de Histórias em Quadrinhos com pelo menos dois gibis marcantes: Mephisto – Terror Negro e Os Guerreiros de Jobah, sendo este segundo dedicado aos fãs do gênero aventura & ficção científica. Cada uma destas coleções merece um artigo especial, por hora estarei comentando nas próximas linhas somente algumas impressões pessoais sobre Os Guerreiros de Jobah, e deixar para uma próxima ocasião um artigo mais específico sobre Mephisto – Terror Negro, certamente uma ótima publicação em Quadrinhos, assim como Platoon, edição especial única com histórias de guerra, também lançada pela Icea. O que teria levado uma editora acostumada a lançar livros técnicos sobre o cultivo de soja, arroz, mamão, banana, abacaxi, batatinha, café, cebola; além de outros tantos sobre técnicas de avicultura, piscicultura, bovinocultura, abastecimento, armazenagem, etc, enfim, o que levaria uma editora especializada num tema investir noutro gênero tão distinto? Sim, porque não me consta que HQs sejam lidas por quem trabalha na agricultura, do peão ao patrão. Claro, um ou outro filho de fazendeiro ou de bóia-fria pode vir a se tornar um leitor de HQs, mas são pequeníssimos grãos em vastos hectares. E o melhor de tudo: a Icea optou por editar Quadrinhos e não simplesmente republicar material estrangeiro, mas investindo em ilustradores e roteiristas brasileiros produzindo agaquês de ótima qualidade. Como é de praxe no mercado editorial brasileiro, tanto Mephisto quanto Os Guerreiros de Jobah tiveram curta vida editorial, mas deixaram sua marca no coração dos leitores.
 
E como poderíamos explicar que uma coleção de quatro números que teve quatro títulos diferentes, dois formatos diferentes, e dois personagens principais, pudesse fazer sucesso no nicho quadrinheiro? (*) Não acompanhei Os Guerreiros de Jobah por ocasião do lançamento, só fui encontrar os quatro números em sebos de usados, vários anos depois, e conhecendo melhor estas revistas é fácil perceber porque encantaram os leitores da época: além de HQs de excelente qualidade, feitas por alguns dos grandes nomes do Quadrinho brasileiro, Guerreiros tinha alma de fanzine, publicando contos, artigos sobre o universo das HQs e principalmente mostrando o perfil de roteiristas e ilustradores. Quem acompanhou esta coleção pôde conhecer um pouco mais de talentos como Julio Shimamoto, Julio Emílio Braz, Emir Ribeiro, Gedeone Malagola e Luiz Antônio Aguiar. A revista trazia um encarte central chamado Caderno Especial, sempre comentando assuntos sobre o mundo dos Quadrinhos. Havia também a preocupação de cativar os leitores apresentando trabalhos de iniciantes – em destaque uma HQ publicada no segundo número, Sapiens, do leitor Valdir Fernandes, interessante HQ de cinco páginas enfocando a pré-História humana. A sessão de cartas chamada de “Cantinho do Leitor” recebeu a presença até mesmo de Ofeliano de Almeida, que para lá havia mandado as HQs do Leão Negro, saga em Quadrinhos que posteriormente seria publicada pela editora portuguesa Meribérica. Nem todos tinham seus desenhos publicados, mas as cartas (ao menos as escolhidas) eram atenciosamente comentadas pelos editores.

O aventureiro Brett Carson em ação

 
Pouco conheço a respeito dos bastidores da produção destas revistas, mas tudo indica que aqueles que decidiam pela vida editorial das publicações entendiam do assunto e não contrataram nenhum novato para diretor artístico: Dagoberto Vieira Lemos, ou Dag Lemos, na época já um experiente quadrinhista, com boa folha de serviços prestados aos fãs de gibis ao longo dos anos. Foi Lemos quem escreveu um artigo apaixonado no primeiro número de Os Guerreiros de Jobah, explicando como a proibição das HQs de terror nos EUA possibilitou o surgimento de notáveis artistas brasileiros dos Quadrinhos. Também coube a Lemos a incumbência de criar o personagem que deveria ser o mote principal desta coleção: Brett Carson. E foram duas as HQs com este personagem durante a vida editorial de Guerreiros, publicadas respectivamente nos dois primeiros números da revista, antes da saída de Lemos. No primeiro número, a capa nos dá a falsa impressão de que se trata de uma das tantas variações de Conan, mas lendo a HQ Aventura no Centro da Terra, percebemos que Brett Carson segue mais o estilo das tiras de ficção científica dos anos 1930/40, especialmente o Buck Rogers. Assim como as memoráveis tiras de Calkin e Nowlan, temos ação ininterrupta do início ao fim. Brett Carson é logo apresentado como um “arqueólogo das Nações Unidas”, sofre uma queda enquanto praticava alpinismo e vai parar num estranho mundo subterrâneo onde há vários reinos que ainda não haviam tido contato com os países da superfície, tal como o reino de Aquarius, civilização que havia abandonado a prática da guerra e por isso vinha sendo acossada por tribos de homens-macacos. Para enfrentá-los, vão pedir ajuda ao homem da superfície. Carson aceita a missão e vai resolvendo as coisas na base do muque e da destreza, conseguindo resgatar a princesa de Aquarius e enfrentando um tirano das florestas do reino de Jobah. Pena que a aventura de Brett Carson no segundo número tenha despencado de qualidade. O herói é grafado com dois “t” na capa do número 2, mas somente com um (Bret) na HQ do miolo chamada O Enigma de Linpha. Se a aventura do primeiro número foi digna de Buck Rogers, esta aqui peca por ser muito devagar, quase parando, pouquíssima ação e muita conversa desnecessária (o roteirista desta história, Alvimar Pires dos Anjos, já fez coisa muito melhor). E pena que aquele personagem que é a cara do Charles Bronson apareça somente na primeira página da segunda HQ, onde o herói Carson e seus aliados aquarianos se defrontam novamente contra o tirano de Jobah – que tem o sugestivo nome de Ranghor. Com esta aventura, encerra-se a vida de Brett Carson nos Quadrinhos, e a passagem de Dag Lemos como diretor artístico de Os Guerreiros de Jobah.

Continua...

(*) anotem aí os títulos das capas, e atentem para outros dados técnicos das revistas: #1 – Os Guerreiros de Jobah – Um Mundo de Aventuras (40 páginas, CR$ 90,00 [noventa cruzeiros], capa de Dag Lemos); #2 – Brett Carson – Os Guerreiros de Jobah (64 páginas, Cr$ 98,00, capa de Dag Lemos); #3 – Os Guerreiros de Jobah (esta edição teve formato maior do que as outras três – 64 páginas, Cr$ 340,00, capa de E. C. Nickel); e #4 – Guerreiros de Jobah – Térik e o Magnífico de Ur (retomou o tamanho dos dois primeiros números – 64 páginas, Cr$ 310,00 e um grosseiro erro de português na capa – “fantazia” – capa por Paulo Branco [?]).

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