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Radar, uma revista com jeito de fanzine
Por José Salles
22/06/2007

A capa de Watson Portela

Uma das editoras independentes mais atuantes no mercado editorial brasileiro na segunda metade da década de 80 do século passado foi a Press Editorial, marcando presença com publicações de ótima qualidade como Andróide, Superficção, Ambrak, Wull o Conquistador, e entre tantas outras a revista Radar, lançada no ano de 1986, e como era praxe nos gibis desta editora paulistana, em suas páginas desfilaram grandes quadrinhistas brasileiros.
 
Neste que parece ter sido o único número de Radar – não há numeração (nº 1) na capa, nem no editorial, nem no expediente. E como não sei se houve um número 2, fico pensando se não seria assim mesmo, um número único de acordo com o projeto de autores & editores, já que outras histórias continuariam saindo normalmente nas revistas de linha, como a Andróide e Contato Imediato – infelizmente nenhuma delas durou muito tempo. De qualquer forma, o que mais impressiona em Radar é o evidente espírito de fanzineiro que se percebe por todas as páginas: há textos, curiosidades & novidades sobre HQs e um artigo sobre o badalado Festival de Quadrinhos de Lucca na Itália. A alma dos editores fanzineiros está mesmo na transgressão gráfica: utilizando-se de uma HQ de Watson Portela – na verdade duas histórias distintas porém interdependentes, Vôo Livre 6 e Vôo Livre 7, a primeira precedendo o editorial, e a última vindo após o expediente, como se fossem aspas, ou cortinas. E esta HQ (co-roteirizada por Franco da Rosa, um dos editores da Press e atualmente um dos profissionais mais requisitados no mercado de Quadrinhos) começa feito misteriosa ficção-científica, terminando como uma tiração de sarro ao Mandrake de Lee Falk.
 

A Noite do Desespero: arte de Mozart Couto

Abram alas para uma das mais claustrofóbicas e assustadoras das HQs udigrudis já feitas: A Noite do Desespero, escrita por Franco da Rosa e ilustrada cinematograficamente por Mozart Couto, mostrando o pavor e o desespero de um sujeito sendo perseguido implacável & inexplicavelmente por sujeito misterioso. Através das ruas da cidade e nas estações de metrô, ele se vê obrigado a enfrentar o assustador e inesperado inimigo. Os autores conseguiram dar à narrativa o suspense típico dos seriados televisivos do estilo Além da Imaginação. Feliz Demais (t.c.c. Nascer de Novo) é uma HQ escrita & ilustrada por Spacca, dedicada a Flávio Gikovate. Lembro-me que este senhor, renomado psicanalista, apresentava um interessante programa de televisão, onde ele entrevistava uma pessoa diferente por dia – algumas pessoas conhecidas, mas a grande maioria dos participantes era de pessoas comuns, que sempre tinham histórias muito interessantes a contar. Gikovate fazia as entrevistas como se fosse o capitão da Enterprise – o cenário o colocava sentado numa poltrona defronte a um imenso telão, de onde se via o rosto dos entrevistados. Psicanálise na TV. Gikovate não deve mesmo ser de todo mau, pois lançou vários livros e foi após a leitura de um deles que Spacca inspirou-se a fazer esta genial HQ, onde nascimento & morte simbolizam uma coisa só, um parêntese de vida.
 

Aurora do Homem, de Bené Nascimento (Joe Bennett)

Segue Aurora do Homem, escrita & desenhada por Bené Nascimento (t.c.c. Joe Bennett). Vendo HQs como esta fica fácil perceber porque este papaxibé conseguiu encantar os gringos marvélicos: um mini-épico sci-fi primitivo que é antes de tudo uma história de emoções humanas, de amor, traição, desilusão e vingança. Amor de Mãe de Jonas Schiaffino é uma divertida sátira aos tiras durões, e se La Mer... do quadrinhista Sep começa parecendo página dominical do Hagar, termina parecendo coisa do Luiz Gê. Também neste Radar temos na contracapa uma HQ de Marcio Baraldi, hoje o badalado autor do Roko Loko e outros divertidos personagens, marcando presença nesta revista Radar com O Dia em que as Mulheres Dominaram o Mundo, uma visão satírica sobre a inversão das posições sexuais/sociais. E outras duas HQs que merecem registro, cada uma de meia página cada: uma de F. Bonini em defesa da criação artística e outra do ativo Seabra (Philia), mostrando linda mulher nua cavalgando um vistoso garanhão (o eqüino) em paragens bucólicas. Zôo-“Philia”, é claro, coisa que faz lembrar “crássicos” do Cinema da boca-do-lixo como Duas Mulheres e um Pônei, de Juan Bazon.

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