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Por Marcio Baraldi 18/03/2011 Jayme Cortez Martins nasceu em Lisboa, em 8 de setembro de 1926 e veio para São Paulo em março de 1947 onde fixou residência e, no ano seguinte, casou-se com a brasileira Maria Edna. Cortez foi um dos maiores quadrinistas do Brasil em todos os tempos e um dos grandes nomes mundiais do ramo. Autodidata, Cortez publicou, em julho de 1944, sua primeira HQ no semanário português O Mosquito, no qual colaborou até 1946. Seu trabalho, nesta época, era caracterizado pelo uso de tipos populares de Lisboa em suas histórias. Já no Brasil, inicialmente teve uma curta experiência como chargista no jornal O Dia, mas logo começou sua carreira como desenhista de quadrinhos fazendo tiras para o Diário da Noite, com as séries Caça aos Tubarões e O Guarany. Seu trabalho, de alta qualidade técnica, dominando um estilo acadêmico impecável baseado em Mestres como Hal Foster e Alex Raymond, logo chamou a atenção e por conta disso foi contratado pelas editoras La Selva e Novo Mundo, onde foi diretor de arte e capista de inúmeras revistas. Era uma época de extrema popularidade para os quadrinhos, que não possuíam ainda a concorrência das TVs e da internet e, portanto, eram consumidos em doses cavalares pela molecada, sendo então verdadeira literatura de massas. Artista rigoroso, Cortez utilizava fotos e modelos vivos como referência em seus trabalhos. Devido ao seu virtuosismo e excelência no manuseio dos pincéis e tintas, Cortez era sempre escalado para fazer as capas de gibis de todos os gêneros: infantis, cômicos, super-heróis, faroeste, guerra, aventura, etc, todas sempre com magistrais pinturas a guache. Verdadeiras obras de arte que o punham em pé de igualdade com qualquer Mestre da HQ mundial. Por conta disso, Cortez logo se destacou entre sua geração e tornou-se aclamado e reverenciado por todos os demais artistas. Ele seria tratado por todos como o Mestre dos Mestres! De fato Cortez era insuperável! E rápido, produzia sem parar como uma máquina e não parava de evoluir como artista, experimentado cada vez mais novas técnicas e estilos, como o cubismo, que usaria em inúmeras capas de livros, e a solarização das imagens, que conferia um aspecto psicodélico aos desenhos, numa estética muito popular nos anos 60 e início dos 70. Com esta técnica ilustrou inúmeros cartazes de cinema, entre outras obras. Por fim, evoluiu até chegar num grafismo solto e ao mesmo tempo muito expressivo, construindo a luz e sombra das cenas e o volume dos sólidos com um emaranhado de hachuras a bico de pena e pincel, que acabaram por virar sua marca registrada e inconfundível. Graças a esta técnica original desenvolvida por ele, ultrapassou o academicismo que dominava com um pé nas costas e alcançou um patamar realmente sui-generis. Poucos artistas dos quadrinhos mundiais experimentaram e evoluíram tanto, construindo obra tão pessoal quanto Cortez. Em 1959, cansado de trabalhar para os outros (e ser explorado), Cortez uniu-se ao também desenhista Miguel Penteado (saiba mais sobre ele aqui)e fundaram a Editora Continental, por onde lançariam apenas gibis 100% nacionais e gerariam emprego para muito quadrinhistas daquela época. A Continental não seria apenas mais uma editora entre as outras, seria "A Editora do Quadrinho Nacional"! Tanto Cortez, quanto Penteado eram nacionalistas fervorosos (Penteado era comunista, militante do PCB) e uma de suas regras era estampar uma tarja verde-amarela na capa de todos suas revistas com os dizeres: Escrita e desenhada no Brasil!. Mais do que dois artistas e editores maravilhosos, foram grandes guerreiros da HQ Brasileira e chegaram a criar um movimento pela criação de Leis de Incentivo e Proteção ao Quadrinho Nacional. Fundaram a ADESP (Associação dos Desenhistas do Estado de São Paulo) e a ABD (Associação Brasileira de Desenhistas), criaram um projeto de lei de reserva de mercado para a produção nacional de HQ, reservando dois terços do espaço para artistas locais, e o levaram até os presidentes Jânio Quadros e posteriormente João Goulart. Porém enfrentaram forte resistência das grandes editoras de então, como Abril, Rio Gráfica e Ebal, e o projeto acabou não vingando e o movimento foi esvaziando até sumir. Mas voltando aos dias de glória da Continental, nas décadas de 50 a 70, o quadrinho de Terror era uma verdadeira coqueluche entre os leitores brasileiros. Cientes disso, Cortez e Penteado resolveram aproveitar o momento e lançaram dezenas de gibis do gênero. A produção foi tão intensa e prolifica que marcou uma época e consolidou aquele período como um marco para a HQ brasileira, sendo considerado pelos estudiosos como a Era de Ouro do Quadrinho Nacional e colocando o Brasil como um dos grandes produtores de Quadrinho de terror do planeta. Alguns dos geniais artistas que fizeram parte do cast da Continental (que depois mudaria seu nome para Outubro e, ainda depois, para editora Taika) foram Rodolfo Zalla, Eugênio Colonnese, Gedeone Malagola, Júlio Shimamoto, Flávio Colin, Gutemberg Monteiro, Nico Rosso, Lanzelloti, e muitos outros que formavam a nata da categoria da época. Inclusive foi a Continental a primeira editora a apostar no potencial do então rapazola Maurício de Sousa, lançando BIDU, o primeiríssimo gibi do cartunista, que durou poucos números, mas serviu para prepará-lo para o sucesso que viria depois, ao lançar em 1970 o gibi da Mônica pela editora Abril. Este foi mais uma mérito de Cortez: ter sido "padrinho" profissional e o primeiro a investir naquele que se tornaria o maior e mais bem sucedido quadrinhista da história do Brasil! Aliás, do Brasil não, da América Latina, pra dizer o mínimo! Jayme Cortez também foi um dos organizadores (além de Álvaro de Moya, Miguel Penteado e Syllas Roberg) da primeira Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos, quando, pela primeira vez no mundo, os quadrinhos eram apresentados e apreciados como arte e que foi aberta em 18 de junho de 1951, no Centro Cultura e Progresso, em São Paulo. Incansável, foi também professor da Escola Panamericana de Arte e trabalhou na área publicitária como diretor de criação da agência McCann Erickson entre 1964 e 1976 e depois passou a diretor de merchandising e animação da Maurício de Sousa Produções. Em novembro de 1986 Cortez foi homenageado em Lucca, Itália, com o prêmio Caran D'Ache, no XX Festival Internacional de HQ e Ilustração, pelos seus 50 anos de atividades. Faleceu no ano seguinte, pouco antes de completar 61 anos, devido a um ataque cardíaco após passar dois dias internado em consequência de uma hemorragia no abdômen. Deixou organizado o álbum Saga do Terror, que reunia vários de seus quadrinhos e foi lançado postumamente pela editora Martins Fontes. Após sua morte, foi homenageado na cerimônia de premiação Angelo Agostini, que deu seu nome ao troféu honorário entregue anualmente aos "incentivadores da HQ nacional". Como curiosidade, o desenhista também teve uma breve experiência como ator, participando de três filmes do diretor José Mojica Marins, o Zé do Caixão: Delírios de um anormal (lançado em 1978); Mundo - mercado do sexo (lançado em 1979) e Perversão - Estupro (lançado em 1979), além de propagandas na TV. Jayme Cortez foi um dos grandes Mestres da HQ mundial, do quilate de um Foster ou Raymond, e pedra fundamental para a construção do Quadrinho Brasileiro. Não é exagero dizer que no Brasil todo profissional do ramo aprendeu, direta ou indiretamente, algo com ele. Não é a toa que será eternamente lembrado e reverenciado como o Mestre dos Mestres Brasileiros! Visite o blog em homenagem a Cortez. * Fonte parcial WikiPedia |
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