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Por Mário Latino e Marcio Baraldi 02/02/2011 Poucos sabem, mas Joe Shuster, o desenhista que criou o visual daquele que seria o primeiro super-herói e uma das maiores contribuições à cultura popular do século vinte, era canadense. Nascido em Toronto no ano de 1914, foi morar em Cleveland, Ohio quando tinha dez anos de idade. Aí acabaria conhecendo um aspirante a escritor chamado Jerry Siegel e com ele criaria um dos maiores ícones da história dos "comics": o Super-Homem. Ambos os jovens nutriam uma paixão quase doentia pela ficção científica e estavam constantemente criando "comics strips" que apresentavam para os jornais, sem resultado algum. Uma dessas tiras, feita em 1933, trazia uma personagem inspirada num romance de Ficção Científica chamado "The Gladiator". O herói trazia o nome de Superman e foi apresentado para o editor da revista Detective Dan que olhou os desenhos sem muito entusiasmo. Fulo da vida, Shuster rasgou os desenhos! Este fracasso não seria o primeiro que a dupla de artistas teria que enfrentar. Mas ainda bem que eles perseveraram, senão a história dos Quadrinhos mundiais poderia ser bem diferente hoje. Até que em 1935, finalmente Siegel e Shuster conseguiram emplacar sua primeira história! Assim, Dr. Occult, o Detetive Fantasma, fez sua estréia em More Fun Comics, revista publicada pela editora National (atual DC). Mais tarde vieram Federal Men, Henri Duval, Radio Squad e Slam Bradley. Os desenhos de Shuster estavam longe do virtuosismo de um Hal Foster, mas se destacavam pela sua simplicidade e objetividade. O artista não gostava de ficar enrolando com detalhes inócuos que, em muitos casos, só têm a intenção de esconder falhas de desenho. Uma das suas inovações, já naquela época, foi aquilo que hoje é conhecido como "splash page", a página com um único quadrinho. Pois é, esse recurso hoje utilizado por onze entre dez gibis foi invenção do jovem Shuster! Vendo seus desenhos originais, o leitor pode ficar surpreendido ao saber que Shuster era um desenhista quase cego. "Para ver meu próprio trabalho eu tinha que trazer a página até uma distância de uma polegada", contou numa entrevista feita no final dos anos oitenta. Em 1938, depois de ter reformulado o conceito do Super-Homem, ambos artistas venderam para a DC, por apenas U$130 dólares, a tira que mudaria a história dos "comic books". Jamais eles poderiam imaginar que aquela tirinha tão simples se transformaria numa verdadeira mina de ouro em pouquíssimo tempo após sua venda. De fato, o personagem estourou logo na sua estréia, na revista Action Comics 1, onde aparecia logo na capa erguendo um automóvel por sobre a cabeça. Esta cena se tornaria um clássico instantâneo dos quadrinhos. Era algo extremamente novo na época e chamou a atenção geral! O sucesso foi tão imediato e tamanho que logo viriam centenas de imitadores que, apresentando variantes do conceito do super-herói, tentaram igualar o sucesso da dupla Siegel-Shuster. A maioria não conseguiu e o Superman se tornou o primeiro e maior super-herói, permanecendo imbatível até hoje, 73 anos depois! É inegável que Super-Homem foi o ponto alto da carreira de Shuster. Com o sucesso comercial da tira, Shuster teve que contratar outros desenhistas para ajudá-lo, mas ele ainda continuava a desenhar o rosto e a figura do Super-Homem. No ano de 1945, Siegel, ao ver a poderosa máquina de fazer dinheiro que seu personagem havia se transformado, entrou na justiça contra a DC pelos direitos do Super-Homem, dando inicio a uma batalha judicial. Por conta desta briga jurídica, Shuster teve que se afastar daquela que era sua maior criação. Como resultado do processo, a Justiça decretou que a DC pagasse U$ 94 mil dólares para a dupla, referente aos direitos do personagem, além de colocar obrigatoriamente na abertura das histórias do personagem a frase: "Superman, criado por Jerry Siegel e Joe Shuster". Separados de vez de sua criação famosa, Siegel e Shuster meteram a cara no trabalho e tentaram criar outros personagens de sucesso. Bolaram então, o Funnyman, um herói cômico vestido de palhaço, mas que teve um resultado aquém do esperado. Depois de uma breve passagem pela Charlton Comics, Shuster passou a desenhar HQs eróticas para a revista Night Terror, um "catecismo" americano, que por conta do rígido código de ética da época, não podia nem ser exposta nas bancas. Porém, sentindo que já não enxergava mais o suficiente para desenhar, decidiu encerrar sua carreira como desenhista na década de 60. Por causa da quase cegueira, Shuster foi obrigado arrumar outro ofício para sobreviver e foi trabalhar nos correios, como carteiro. O momento mais triste da sua vida veio nesta época, quando, por ironia do destino, era obrigado a levar pacotes de correspondência ao prédio da DC, onde via artistas mais jovens desenhando as histórias do personagem que ele tinha criado. Além de ver todo o dinheiro que o Superman arrecadava para seus ex-patrões da DC. A trágica situação de Shuster provocou a indignação de muitos colegas de profissão que apoiaram sua luta e a de Siegel para ganharem uma pensão decente da DC. A editora no entanto permaneceu indiferente aos apelos da dupla por muitos anos. Foi só em 1978, com o sucesso do filme Superman (com Cristopher Reeve), que a DC concordou em pagar a merreca de U$20 mil por ano a Siegel e Shuster, depois aumentada para a "fortuna" de U$30 mil anuais. Uma ninharia perto do que a DC arrecadava com o personagem. Shuster faleceu no dia 30 de julho de 1992. Seu parceiro Siegel faleceu quatro anos depois. Ambos viveram sem desfrutar de um milésimo da fortuna que seu personagem gerou (só o box do DVD do último filme "Superman Returns" rendeu mais de 200 milhões de dólares). Porém, logo após a morte de Siegel, sua mulher e filha decidiram entrar na Justiça para reaver todos os direitos sobre o Superman. E eis que em 2008, finalmente a justiça americana, numa decisão histórica, decidiu que os copyrights do Superman pertencem agora aos herdeiros de Siegel e não mais à Warner Bros (empresa que comprou a DC Comics). Ficou decidido que os Siegels terão direito a tudo relacionado ao personagem que tenha sido lançado após 1999. Joe Shuster no entanto, não teve filhos e, portanto, não deixou herdeiros para receberem os copyrights do personagem. Triste fim para o homem que criou Superman! |
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