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Entrevista: André Dahmer
Por Pedro de Luna
13/12/2006

Uma tirinha dos Malvados, de André Dahmer

Seus personagens mais conhecidos são duas florzinhas e uma legião de bárbaros. Publicadas diariamente no Jornal do Brasil, as tirinhas dos Malvados ganharam livro pela editora Genese e uma legião crescente de fãs. Conheci o André Dahmer pessoalmente numa de suas vernisages, na loja Cucaracha, aqui mesmo no Rio. Entre goles de vinho branco e papo furado, acabei comprando a publicação e resolvi dar voz ao artista aqui nas páginas do Bigorna.net, com o consentimento do Eloyr. Confira!

Você já desenha desde criança; como as HQS entraram na sua vida?

Comecei a desenhar muito cedo, como todos os seres humanos normais. Depois, na quarta série primária, teimaram em me tomar este direito, mas fui esperto e não aceitei. Busquei conhecimento relevante nas artes: Molica, Amador Perez, Maria Teresa Vieira, Urian... Tentei carreira na Belas-Artes da UFRJ, mas briguei com professores que queriam me transformar num robô. Acabei por me formar em Design na PUC do Rio, mas pouco trabalhei nesta profissão. Na verdade, sempre trabalhei com ilustração e pintura e apenas há cinco anos comecei nos Quadrinhos. Foi por vontade de escrever e não só por desenhar que entrei nesta de Quadrinhos.

Quando você percebeu ou decidiu que daria pra viver deles?

Na verdade nunca decidi viver de Quadrinhos. A minha paixão era a pintura e o meu hobbie, os Quadrinhos. Em um certo momento, comecei a ganhar grande visitação na Internet com os meus Malvados e pintaram jornais e revistas interessados em publicar meu trabalho. Mas pinto ainda hoje, para sempre vou pintar.

Além de publicar os Malvados no JB e na Bizz, você tem um emprego fixo, certo? Como conciliar as duas coisas?

Eu trabalho como ilustrador 8 horas por dia, bato ponto mesmo. Consigo conciliar as duas coisas por considerar meus Quadrinhos importantes para minha vida, para minha cabeça. Na verdade, não encaro as tirinhas como um trabalho, uma obrigação, um fardo. E isto é que é trabalhar, no sentido mais pleno e sóbrio da palavra. É construir coisas ou idéias por prazer e viver disto. Tenho prazer em perder meu precioso tempo de sono com meus Malvados. É como sair para beber com os amigos em dia de semana...

Como é seu processo de criação?

Na verdade, não tem muita frescura não. Meu processo é de caos mesmo. Vejo ou penso coisas na rua e anoto. Não tenho disciplina, método, horários. Apenas tento dar o melhor de mim na hora que faço Quadrinhos, porque só faço se for pelo prazer. Se não for, não faço.

Quais os sons que marcam presença no seu aparelho de som?

É mesmo uma pena, mas ouço pouco música e adoro o silêncio. Na verdade, escuto os mesmos discos há anos: Transa, Secos & Molhados, algumas coisas como Cantoria: Elomar, Xangai... E bastante Bossa Nova, que realmente gosto muito. Bob Dylan entre os gringos e... só.

Você já pensou em fazer uma animação dos Malvados?

Já pensei e já pensaram para mim. Mas tenho medo de não ficar bem adaptado. Sou preciosista e se for para fazer um dia, terá que ser muito bem realizado, ou não a farei.

A quantas anda a venda do livro? E quando sai o próximo?

O livro vendeu muito bem e isto é bom. Ele vende até hoje muito bem e todos os dias pelo meu site, junto com as camisas que boto lá. Devo fazer outro em 2007, mas sem pressa. Prefiro pensar melhor o material, para não colocar qualquer merda na rua.

O que nasceu primeiro: o Dahmer que pinta telas ou que faz tirinhas?

O que pinta telas, desde os 14 anos. Este também é o Dahmer que vai morrer por último.

Você ainda vê utilidade em ter editora ou o caminho é a independência, e por quê?

As editoras sempre contam a triste história do monopólio da distribuição. Acham que são donas do mundo por dominarem esta distribuição. Pagam mal ao autor, são atravessadores mesmo. Com a Internet, isto acabou. Se você tem capacidade de se organizar e se o seu trabalho é bom de verdade, vai dar para você viver dele de maneira independente e digna. Eu vendo centenas de livros e camisas todo mês sozinho. Centenas mesmo. A diferença? Eu ganho 65% do custo dos produtos, e não 4%, que é o que ganha um quadrinhista que assina contratos com esta gente. Não tem muito mistério: um site com boleto e cartão, uma tiragem pequena e correios...

Por fim, de quais ilustradores, cartunistas e quadrinhistas você gosta aqui no Brasil? E na gringa?

No Brasil nutro grande carinho pelo trabalho do Laerte e pelos novos talentos dos quadrinhos: Bennett, Arnaldo Branco, Allan Sieber... Não posso citar gringos porque na verdade, li muito pouco Quadrinho em minha vida, por mais incrível que isto pareça. Comecei a me interessar por obrigação do ofício, há poucos anos.

O Bigorna.net agradece a André Dahmer pela entrevista.

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