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Por Shirley Paradizo 19/04/2006 Ziraldo dispensa apresentação. Fundador de O Pasquim, famoso jornal dos anos 1960, e da revista humorística Bundas, o escritor, jornalista, chargista e quadrinhista, criou inúmeros personagens de quadrinhos inesquecíveis, como Mineirinho Comiquieto e Supermãe. Ainda na década de 1960, ele foi responsável pelo lançamento da primeira HQ brasileira feita por um só autor, a Turma do Pererê, que trazia em suas páginas as aventuras do personagem Pererê (um Saci) e sua turma da Mata do Fundão. Em 1969, publicou seu primeiro livro infantil, Flicts, e, em 1980, O Menino Maluquinho, que, rapidamente, se tornou um fenômeno editorial. Nesta entrevista, ele fala sobre os 25 anos de Menino Maluquinho, o personagem mais querido da literatura infantil brasileira, e sua carreira. Como começou sua carreira? Quando eu saí de casa, queria ser desenhista de História em Quadrinhos. Meu desenho sempre foi narrativo. Nunca fiz pintura. E eu fiz a revista A Turma do Pererê, que durou cinco anos. Isso foi em 1960. Agora vai ser reeditada. Com o golpe de 64, a revista acabou, porque era muito nacionalista, tinha um coelhinho vermelho que não gostava de general... Aí, ajudei a fundar O Pasquim e passei a fazer charge política. Quando a ditadura acabou, o jornal ficou meio sem sentido. Então, disse para a editora se eles não queriam um livro para crianças, que eu tinha uma idéia ótima! Resumi a história para eles e adoraram! Larguei tudo e fui fazer livros infantis. O Menino Maluquinho me transformou em escritor de livro infantil. Fez um enorme de um sucesso, virou filme, ópera, peça de teatro. Aconteceu muita coisa com ele, ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais, videogame, versões adaptadas para teatro, ópera infantil, cinema e agora minissérie de TV (exibida pela Cultura). O Menino Maluquinho completou 25 anos e recebeu grandes homenagens... É, ganhou um almanaque especial. A idéia foi da Editora Globo, que publica os quadrinhos do Menino Maluquinho. Eles convidaram 25 quadrinhistas brasileiros para escreverem a história. Foi uma coisa muito simpática da parte deles, não só o personagem foi homenageado, eu também. Cada amigo meu, Angeli, Mauricio de Sousa, Miguel Paiva, Caco Xavier, entre outros, desenhou uma página dupla da história, usando seu próprio traço. Quando foi concebida, eu não sabia nada da história, foi uma surpresa. Só sabia que eu iria aparecer nela, de cabelos brancos e tudo. Assim, o menino e o velhinho maluquinho ganharam essa homenagem. Em que você se inspirou para criar o personagem? Na época, eu trabalhava com O Pasquim e também fazia muitas capas de cadernos escolares e palestras. Numa das palestras para pais e mestres numa escola, comecei a falar sobre a importância de os pais criarem uma criança feliz, sem ficar atazanando a sua vida, que o menino tem que ser amado, essas coisas. Tenho uma tese de que uma criança feliz vai gerar, no futuro, um adulto legal. Eu estava falando isso para as pessoas e me disseram: “Por que você não escreve um livro sobre isso?”. A princípio, não achei a idéia boa, mas pensei que poderia inventar uma história para isso. E, então, em 1980, escrevi O Menino Maluquinho, que mudou minha vida. Qual é o segredo de Menino Maluquinho? Acho que tem a ver com a identificação. Toda criança quer ser um pouco o Menino Maluquinho e todo pai quer ter uma criança como ele. Meus livros são muito familiares e lidos muito mais pelos pais do que pelos filhos. Na sua infância, você queria ser como ele? Evidente. Fui criado no interior. Eram bons tempos e eu não troco ela. Mas prefiro a do meu filho e, principalmente, a dos meus netos. Hoje as crianças viajam muito, tem tudo na mão, videogame, computador, brinquedos mais legais, piscina... Na minha época, não existia nada disso, tínhamos de inventar brincadeiras, também era bacana, mas não se compara a de hoje. Hoje continuo sendo assim, meio maluquinho, fora do padrão. Minha proposta de vida é um pouco fora do padrão. Sou apaixonado por esse país, tenho preocupação em ajudar para que ele dê certo. Seu primeiro livro infantil foi Flicts. Como surgiu a idéia de criá-lo? Foi em 1969, quase dez anos antes de O Menino Maluquinho. Sou artista gráfico e sempre quis fazer um livro para crianças, mas algo que ninguém tinha pensando antes. Então, fiz um livro gráfico, inédito, usando essa brincadeira com as cores. Foi um sucesso. Mas na época não dava muito para me dedicar a obras infantis, tinha O Pasquim. Quando o jornal começou a perder a força, comecei a me dedicar mais a esses projetos, até que veio O Menino Maluquinho, depois de tantos outros. Qual é o segredo de escrever para crianças? Existe alguma fórmula? Acho que é você ser o mais cúmplice possível delas. Tem de ser o menos complicado possível e nunca facilitar a vida do leitor. Eu converso com ele de igual para igual. Os meninos não acham que eu sou um mestre, mas um parceiro. É mais fácil escrever literatura para adulto ou criança? Sempre defendo que, para criança, ler é mais importante do que estudar, como não poderia achar o mesmo em relação a todas as pessoas, independentemente de sua profissão ou idade? A leitura, qualquer uma, seja de livros, revistas, jornais e até bula de remédio, é uma viagem que o homem pode e deve fazer em busca do seu conhecimento. Os pais não têm idéia de como é importante a presença da literatura, de ler, na vida dos seus filhos. Qualquer um, livros de história, livros que contam casos, que despertam a curiosidade das crianças para a vida, para o mundo. Com qual personagem você se identifica mais? Meus personagens, em sua maioria, são o que em literatura se chama de um compósito. Não há uma mulher igual à Professora Maluquinha, por exemplo, assim como não existe um menino exatamente igual ao Menino Maluquinho. São figuras literárias. E literatura é uma espécie de imitação da vida. Quanto melhor a imitação, melhor a literatura. Os dois, apenas como exemplo, foram criados na base de “uma porção de coisas que eu sei deles”. As histórias da Professora Maluquinha, por exemplo, são, na sua maioria, verdadeiras. Cada uma delas acontecida com um professor ou professora diferente. Criei um montão de personagens, mas sou mesmo parecido é com a Supermãe, com certeza! Eu sou a verdadeira Supermãe, tenho muito dela ou ela de mim, como preferir. Qual é a sua grande responsabilidade social como escritor? No Brasil, tudo está por ser feito, então é preciso ter cuidado com o que se faz e se diz. Não se pode mentir ou enganar, pois se está falando com pessoas que estão ainda criando um país. A responsabilidade do cidadão existe como ser humano e não especificamente como escritor. Eu sempre carreguei bandeiras, como contra a ditadura militar, o Fernando Henrique, o Bush, a globalização, a corrupção, o desmatamento, a poluição das águas e por aí vai. Quando virei autor de literatura infantil, descobri que um artista, em um país como o Brasil, acaba fazendo de seu trabalho uma forma de missão. Escrever livros para um país sem leitores é meio complicado. Temos que tentar mudar esse panorama. Acho que um dos caminhos para um país melhor é fazer dele um país de leitores. E é o que eu tento fazer. Na sua opinião, como anda o mercado editorial no Brasil para o público infantil? A História em Quadrinhos está ficando cada vez mais cult. Antes era mais de massa e hoje é mais para quem gosta. Atualmente, tem muita coisa boa para atrair as crianças, antes só existia a HQ para se ler. Quando era menino, todo mundo lia quadrinhos. As crianças esperavam as edições como se espera o Messias. Hoje não, estamos em contato com o mundo permanentemente e o Quadrinho é apenas mais uma opção. Os Quadrinhos, na minha infância, eram uma janela para o mundo, eram o único contato que tinha com leitura. Em que projeto está trabalhando atualmente? Estou fazendo várias coisas. Mas me dedicando a uma coleção de livros que inclui O Menino da Lua, lançado na Bienal este ano. Serão 10 volumes, por enquanto. Então, teremos, por exemplo, o menino de Marte, de Júpiter, de Mercúrio... É como se fosse possível você, em vez de visitar seu amiguinho em outro bairro, visitá-lo em Mercúrio e cada um desses meninos terá um temperamento diferente. E agora estou desenvolvendo essa série. Vai ser bem legal. |
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