![]() |
![]() |
|
30/06/2005
Diabo Coxo e o Cabrião Angelo Agostini começou a desenvolver sua arte em São Paulo. O primeiro jornal foi o Diabo Coxo, o primeiro periódico ilustrado editado na cidade. Semanário, começou a ser publicado em 17 de setembro de 1864, tendo duas séries de 12 números, sendo o último conhecido em 31 de dezembro de 1865. Redigido por Luiz Gama (1830-1882), o Diabo Coxo também tinha a colaboração de Sizenando Nabuco. Os desenhos de Agostini já impressionavam. Ele construía e movimentava seus desenhos com uma impressionante facilidade. Foi célebre a caricatura do desastre ocorrido com o trem inaugural da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, na várzea do Carmo, que descarrilou, ferindo o presidente da Província e estragando toda a cerimônia. Já Cabrião surgiu em 30 de setembro de 1866, circulando semanalmente com 51 edições até 29 de setembro de 1867. Redigido por Américo de Campos e Antonio Manoel dos Reis, era adepto ao Partido Liberal. Agostini encontrou um período fértil para sua sátira: a Guerra do Paraguai, com caricaturas, desenhos, ilustrações de soldados mortos e mapas, ocupou muitas vezes as páginas do Cabrião, não esquecendo a sátira ao Duque de Caxias e ao recrutamento de voluntários para o conflito. O artista criou o símbolo do jornal: um tipo popular e mordaz chamado Cabrião que percorria as ruas da cidade atrás de tipos curiosos e atazanando os políticos do Partido Conservador. A capital do Império e Nhô Quim Angelo Agostini muda-se para o Rio de Janeiro em 1867 e colabora durante um ano para O Arlequim. Em 1868 está no Vida Fluminense, onde publica nove episódios de uma história em quadrinhos, editada horizontalmente, que conta as trapalhadas de um interiorano em uma viagem pelo Rio. As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte começou a ser publicada semanalmente em 30 de janeiro de 1869. Agostini intensifica sua atividade abolicionista sendo interpretado por José do Patrocínio assim: "Quando o escravismo pretendeu levantar a opinião, chamando-o estrangeiro, audaz, hóspede ingrato, Angelo sorria-se e limitava-se a dizer: 'Bom, enquanto não me deportam, eu aproveito para dizer o que sinto e o que eu penso...'". No Vida Fluminense, até 1871, Agostini desenvolve sua observação sobre o tipo popular, retratando o caixeiro em domingo, o mascate, o chim do pesado, a mucama alcoviteira, a mulatinha cheia de dengos e a sinhazinha. Também desenvolveu à fundo a metamorfose de importantes figuras da corte em animais característicos.
Agostini, além do traço, percorria os salões com óleos e aquarelas com paisagens do Brasil e da Europa, e também aproveitava a ocasião para ironizar outros artistas plásticos com caricaturas de suas obras. Fazia isso regularmente desde 1872. O advento de abolição e da República não aquietou o lápis do desenhista. Ele continuou satirizando os políticos e os costumes da capital do começo do século nas páginas da famosa revista O Malho. Nas portas da velhice, no início de 1904, tem uma breve passagem pelo jornal Gazeta de Notícias e em 11 de outubro de 1905, com Luiz Bartolomeu de Sousa e Silva, funda a mais importante revista infantil do Brasil: O Tico-Tico. Agostini desenharia o primeiro cabeçário, com um grupo de garotinhas nuas brincando entre as letras da revista. É de Agostini também História de Pai João no quinto número, a capa da edição de 10 de janeiro de 1906 e uma série, A Arte de Formar Brasileiros, iniciada em maio do mesmo ano. Continuou desenhando nas páginas de O Malho até às vésperas de sua morte, num domingo, 23 de janeiro de 1910, cansado pelos anos de trabalho e atingido pela morte de seu amigo de 50 anos, Joaquim Nabuco, que falecera no dia 17, em Washington. No sábado Agostini participou de uma reunião com os antigos membros da Confederação Abolicionista para homenagear o velho companheiro de lutas. Alquebrado pelos anos e fustigado pelo violento verão, ele voltou para sua casa, triste e saudoso, falecendo no dia seguinte. Deixou uma obra memorável, num volume surpreendente em quantidade e qualidade, criando um estilo único, pioneiro e precursor da caricatura nacional. Sua importância para a arte do desenho e da sátira de costumes só seria igualada a outro mestre: J. Carlos. Angelo Agostini é lembrado e reverenciado ainda hoje através da premiação anual da AQCESP - Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo, com o troféu Angelo Agostini, marcando a data da publicação do primeiro episódio de Nhô Quim em 30 de janeiro de cada ano como o Dia do Quadrinho Nacional. Por Worney Almeida de Souza |
Quem Somos |
Publicidade |
Fale Conosco
|